De acordo com a literatura científica, beber café é benéfico para a saúde intestinal, pois ajuda a melhorar as contrações musculares no intestino, aumentando a motilidade do músculo liso no trato gastrointestinal. Mas outros alimentos, como as fibras, são mais eficazes
O café é uma das bebidas mais consumidas globalmente. É composto por mais de mil ingredientes ativos, como cafeína, minerais, vitaminas, compostos fenólicos, polissacarídeos, lipídeos e aminoácidos.

“Muitas evidências afirmam que beber café pode melhorar o microbioma intestinal e manter o metabolismo. No corpo humano, cerca de 100 trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, vírus, fungos e protozoários estão presentes no trato gastrointestinal (GI). Toda a população de microrganismos GI é conhecida coletivamente como microbiota intestinal. Em condições fisiológicas normais no intestino, a microbiota, além de ajudar na eliminação do bolo fecal, desempenha papéis importantes na regulação de uma ampla variedade de funções celulares, incluindo o metabolismo energético, a resposta imune e a resposta neuroendócrina”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
“No entanto, é necessário ter cuidado com o consumo excessivo, que pode levar à dependência das substâncias estimulantes do café, o que pode levar a consequências indesejadas. Por outro lado, algumas pessoas são sensíveis à cafeína, apresentando problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono, situações em que o café deve ser deixado de lado”, completa a médica.
De acordo com Marcella, ao beber café, ocorre uma aceleração das contrações musculares em todo o intestino e, depois, a cafeína também faz com que os músculos do cólon relaxem. Isso é o responsável pela vontade de ir ao banheiro. “Mas essa movimentação também faz com que algumas pessoas sofram com refluxo ácido quando bebem café e outras bebidas com cafeína”, afirma a médica.
Vários estudos afirmam que o consumo de café ajuda a melhorar o movimento intestinal. Foi demonstrado, por exemplo, que os oligossacarídeos extraídos de borra de café podem estimular o crescimento de bactérias intestinais benéficas e aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta. “Os tipos e a quantidade de ácidos graxos de cadeia curta produzidos pela microbiota intestinal determinam o resultado funcional geral de muitos processos fisiológicos por meio da modulação das respostas anti-inflamatórias e neuroendócrinas”, diz a nutróloga.
Um estudo em ratos mostrou que o consumo de café por três dias causa um aumento na taxa de contração do músculo liso no intestino delgado e no cólon. “O mais interessante é que o estudo descobriu que os efeitos observados do café regular na função intestinal e na microbiota intestinal são semelhantes aos efeitos causados pelo consumo de café sem cafeína. Isso indica que a cafeína não é o ingrediente causador do café responsável pelos benefícios mencionados”, diz Marcella.
Essas evidências que apontam para uma ação benéfica do café para o conteúdo do microbioma gastrointestinal também sustentam a ação dessa bebida na prevenção e ajuda contra a disbiose, desequilíbrio da mirobiota, que podem levar a complicações graves de saúde, como doença hepática gordurosa não alcoólica, esteatohepatite não alcoólica, doença inflamatória intestinal, doença cardiovascular, diabetes mellitus, obesidade e câncer.

No entanto, a médica enfatiza que o café não é uma bebida medicinal e que não substitui uma alimentação saudável, com adequado consumo de fibras, ligadas a uma série de benefícios para a microbiota. “As dietas ricas em fibras podem reduzir o risco de doenças cardíacas e AVC em até 30%, de acordo com um artigo de revisão publicado em 2019 pela The Lancet. Além disso, elas trazem mais saciedade, ajudam no controle da glicose e do diabetes e reduzem a inflamação no fígado. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o recomendável é consumir diariamente de 25 a 35 gramas de fibras”, finaliza a médica.
Fonte: Marcella Garcez é médica nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.