Se já vínhamos em um caminho de exaustão, a pandemia intensificou ainda mais esse sentimento. Um levantamento do Ministério do Trabalho e Previdência, divulgado recentemente, abordou o aumento dos benefícios por incapacidade temporária para trabalhadores com transtornos mentais e comportamentais. A depressão e ansiedade estão entre os principais casos de pedidos de afastamento. Mas por que estamos tão exaustos emocionalmente?
A psicóloga da Amparo Saúde, Muriell Coelho, explica: “Se você sente que está sempre ocupado com trabalho, estudo, cursos, atividade física, rotina doméstica, compromissos familiares, rotina de skincare e outras atividades, saiba que não está só. É possível que você tenha entrado em uma dinâmica de hiperprodutividade ou produtividade tóxica, com um desejo exacerbado de produzir cada vez mais”. Ela ainda alerta que muitas pessoas durante a pandemia entraram em uma espiral de hiperprodução e autocobrança por resultados; e passaram a acumular tarefas mesmo quando já estavam com a agenda cheia.
O resultado disso foi uma intensidade de trabalho muito grande, com reuniões em horários cada vez mais inoportunos e o sentimento constante de “preciso fazer mais”. As próprias empresas, muitas vezes, por conta de reduções nos quadros de funcionários, incentivaram esse fenômeno ou não se deram conta dele a tempo, no meio do turbilhão de problemas que estavam acontecendo. Isso desencadeou, e vem desencadeando, uma série de transtornos emocionais em pessoas do mundo inteiro.

Mas ser produtivo não é bom? De acordo com Muriell, a resposta é sim, porém todo excesso pode transformar-se em problemas. “A produtividade tóxica nada mais é do que o desejo insaciável de produzir muito e o tempo todo, não levando em consideração aspectos psíquicos, físicos e ambientais. Tudo isso pode levar a casos cada vez mais recorrentes como a Síndrome de Burnout, e essas condições de saúde mental precisam ser identificadas e acompanhadas por um profissional”, diz a psicóloga.
Existem algumas explicações para esse excesso de produtividade, principalmente no período em que estamos vivendo. Alguns dos fatores que têm influência direta neste cenário são a instabilidade financeira e no mercado de trabalho. Além do medo de perder o emprego, o custo de vida cada vez mais alto também aumenta a sensação de que é preciso produzir mais.
Mas como não deixar que esse ritmo leve à exaustão? Muriell conta que para que a produtividade tóxica não leve a alguma condição de doença mental, é necessário um exercício de autopercepção e autoconhecimento. “Devemos lembrar que o trabalho é apenas uma parte de quem somos e como nos colocamos no mundo. Por isso, a produtividade precisa ocupar um local de satisfação, gerando sentimentos de autonomia e auto responsabilidade diante da própria história de vida”.
Para ajudar nesse processo e colocar limites na rotina diária, confira algumas dicas práticas:

-Não dispense feriados, folgas e finais de semana: esses momentos são importantes para recarregar as baterias.
-Tenha horários rígidos para trabalhar: tente não responder e-mails ou mensagens fora desse horário.
-Aprenda a dizer ‘não’: no começo é difícil, mas depois é libertador.

-Reorganize a sua agenda: pode ser que você esteja trabalhando demais porque seus horários estão mal organizados.
-Estabeleça as suas prioridades: será que essa tarefa é realmente tão importante e urgente assim? Você vai se surpreender como, muitas vezes, o que parece urgente não é.
-Descubra o que te faz bem: tenha hobbies e prazeres fora do ambiente de trabalho. Autoconhecimento é fundamental para a nossa saúde mental, mas muitas vezes, temos dificuldade em entender o que estamos sentindo.
Fonte: Amparo Saúde