No último sábado, 29 de outubro, foi lembrado o Dia Mundial do AVC. Alterações hormonais que ocorrem nas mulheres desde o início da menstruação até a menopausa, passando por gestações, são complicadores
A dona de casa Adriana Ozório, 47 anos, estava em um momento descontraído de confraternização com a família, quando levantou para passar um café e ficou paralisada diante da pia. A suspeita inicial foi de crise de ansiedade, mas ela foi levada imediatamente para o hospital e recebeu o diagnóstico: AVC isquêmico. Adriana foi então encaminhada direto para o centro cirúrgico e, após três tentativas, a artéria cerebral que tinha um coágulo foi desobstruída.
Nos sete dias de internação, teve que reaprender a falar, segurar objetos, andar. Saiu do hospital com o lado direito parcialmente paralisado e, há pouco mais de um ano, conta com a ajuda de uma equipe formada por fonoaudióloga, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional para recuperar os movimentos perdidos. “Como minha neurologista sempre fala, desse processo ficará apenas a cicatriz da cirurgia, a marca da guerra que travei pela vida e venci”, afirma.
O AVC é hoje em dia a principal causa de morte no Brasil, e a segunda no mundo. E as mulheres são mais propensas a fazer parte dessa estatística devido à variação hormonal sofrida ao longo da vida, com a menstruação, gestação e menopausa. Uma pesquisa americana publicada no American Heart Association indica que todos os anos são registrados 55 mil casos de AVC a mais em mulheres, se comparado aos homens nos Estados Unidos. Isso é o mesmo que dizer que uma em cada cinco mulheres sofrerá acidente cerebral vascular em algum momento da sua vida.
“Homens e mulheres têm os mesmos fatores de risco, mas a exposição a eles é mais nociva para nós”, explica a neurocirurgiã do Hospital Marcelino Champagnat, Luana Gatto. “Como a mulher vive mais, o tempo de exposição a esses fatores é maior. Além disso, as questões ligadas aos hormônios são específicas para elas: o período que envolve a gestação e o pós-parto, o uso de anticoncepcionais e também a terapia de reposição hormonal na menopausa aumentam os riscos de ter AVC.”, complementa.
Os fatores de risco tradicionais para o AVC são a hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, doenças cardíacas, colesterol alto, etilismo, obesidade, dieta não saudável, sedentarismo e doença renal crônica. “Nas mulheres, além dessas doenças, destacamos como fator de risco importante a gravidez. As gestantes possuem três vezes mais chances de ter um derrame do que as mulheres não grávidas da mesma idade. Quando a gravidez complica com eclâmpsia ou pré-eclâmpsia, essa condição perigosa de pressão alta durante a gravidez dobra o risco de derrame mais tarde na vida.”, conta a médica.
Sintomas
No momento em que a pessoa está sofrendo um AVC, é comum que alguns sintomas surjam de maneira súbita como paralisia no braço, perna ou rosto – todos em um lado do corpo – , e também, a alteração da sensibilidade ao tato. A dificuldade de se comunicar, pela fala enrolada, linguagem que não sai ou dificuldade em entender o que o outro diz, são mais sinais de alerta. Alteração na visão, dor de cabeça violenta ou na nuca, crise convulsiva, tontura, vertigem e forte perda do equilíbrio também não podem ser descartados. “A pessoa não precisa estar em um momento de estresse ou sobrecarregada para ter esses sintomas. E qualquer suspeita de AVC é essencial procurar ajuda médica o mais rápido possível. Nesses casos, cada minuto conta”, enfatiza a neurocirurgiã.
Prevenção
A prevenção e os cuidados para diminuir os riscos de AVC são os mesmos para homens e mulheres e incluem hábitos saudáveis, como não fumar, não consumir álcool em excesso ou drogas ilícitas, ter uma alimentação sem muitos alimentos processados, manter o peso ideal, tomar bastante água, realizar atividade física e visitar seu médico regularmente.
InRad alerta sobre a importância do reconhecimento dos sinais de AVC
De acordo com o Ministério da Saúde, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte, incapacidade adquirida e internações em todo o mundo. Segundo dados do Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil, o AVC foi a principal causa da morte este ano: 56.320 somente no primeiro semestre.
“Os dados são alarmantes e, para que tenhamos ações efetivas, é necessário aumentar a conscientização da população sobre o que é a doença e os seus impactos negativos para os pacientes e toda a sociedade.” – explica José Guilherme Caldas, neurorradiologista e Diretor Clínico do InRad.
A campanha do Dia Mundial de Combate ao AVC, celebrado no dia 29 de outubro, propõe aumentar a conscientização sobre os sinais de reconhecimento da doença e os benefícios do acesso oportuno a cuidados médicos de emergência. “O tratamento do AVC requer a ida ao hospital, o mais rápido possível, reduzindo as chances de danos e mortes. Apenas uma equipe multidisciplinar, composta por um grupo de médicos, de enfermeiros, paramédicos, etc pode realizar o diagnóstico correto e o tratamento adequado ao paciente” – reforça Caldas.
O que é AVC?

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é o surgimento de um déficit neurológico súbito causado por um problema nos vasos sanguíneos do sistema nervoso central.
Existem dois tipos de AVC: o AVC Isquêmico, que é a obstrução ou redução brusca do fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral, geralmente por um coágulo, causando falta de circulação no seu território vascular e o AVC Hemorrágico, que consiste na ruptura espontânea (não traumática) de um vaso, com extravasamento de sangue para o interior do cérebro (hemorragia intracerebral), para o sistema ventricular (hemorragia intraventricular) e/ou espaço subaracnóideo (hemorragia subaracnóidea).
Como reconhecer os sinais do AVC?
O tempo é o principal determinante do sucesso do tratamento do AVC, portanto reconhecer precocemente os sinais do AVC é uma forma de minimizar os riscos que ele causa. “Além do reconhecimento, é fundamental a realização de rápida avaliação neurológica e de um exame de imagem (tomografia ou ressonância magnética). Após a realização do exame de imagem é possível definir se o paciente está apresentando um AVC isquêmico ou hemorrágico e trata-lo de forma adequada.” – explica o especialista.
Uma boa forma de saber se uma pessoa está a ter um AVC é utilizar a sigla SAMU que todos sabem ser o serviço de ambulâncias de urgência do SUS.
S – Peça para a pessoa dar um sorriso. Se a pessoa tiver a boca torta ou não atender ao comando chame o SAMU
A – Peça para a pessoa abraçar. Se não conseguir levantar os braços ou tiver um desequilíbrio ou tontura chame o SAMU
M – Peça para soletrar uma música ou frase. Se não conseguir ou trocar palavras ou falar errado chame o SAMU
U – As situações acima são uma urgência chame o SAMU o paciente tem de chegar ao hospital o mais rápido possível.
Como diminuir o risco de ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC)?
Alguns fatores de risco que contribuem para a ocorrência do AVC não podem ser modificados, como idade (incidência cresce com o envelhecimento) e gênero (maior tendência entre os homens). Quando se fala em prevenção, alguns fatores podem ser evitados ou controlados por meio da mudança no estilo de vida – eliminar o tabaco, o álcool em excesso e o consumo inadequado de gorduras, óleos e açúcar associado a alguma atividade física – e fazendo o tratamento de problemas de saúde associados (altas taxas de colesterol no sangue, diabetes, pressão alta e doenças cardíacas). Tudo isso, reduz o risco de um derrame cerebral, mas principalmente melhora a qualidade de vida.
“Há um aumento de 50% a 54% no risco de AVC se você tem hipertensão. Então, veja o tamanho do benefício de o paciente controlar a pressão, por exemplo. Devemos nos atentar em especial aos fatores evitáveis e, para isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com equipes da Atenção Primária à Saúde, que desenvolvem ações de promoção e prevenção, divulgando para a população hábitos de vida saudáveis, que ajudam a evitar o AVC.” – conclui Caldas.
Como saber se estou tendo um AVC? Neurologista explica quais os principais sinais de alerta
Conhecido também como derrame cerebral, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) provoca a morte de mais de 100 mil pessoas por ano no Brasil, sendo a maioria homens, de acordo com o Ministério da Saúde.
O AVC acontece quando os vasos que levam sangue para o cérebro entopem (AVC isquêmico) ou se rompem (AVC hemorrágico), provocando paralisia da área que ficou sem circulação sanguínea.
Apesar de estar entre as causas mais frequentes de morte da população brasileira, muitas pessoas não sabem identificar os sinais que indicam um AVC.
O neurologista João Carlos Lobato, que atua na Clínica Censo, referência na saúde do trabalhador no município de Parauapebas (PA), explica como saber quando uma pessoa está sofrendo um AVC.
“O corpo dá sinais de que algo não vai bem, então é possível identificar a doença nos momentos iniciais e buscar atendimento médico com urgência. Quanto mais rápido for a descoberta e o tratamento, maiores as chances de sobrevivência e de recuperação completa, sem sequelas”, antecipa o médico.
Sinais de alerta do AVC
-fraqueza, dormência ou formigamento em um lado do corpo ou em partes específicas, como face, pernas ou braço;
-confusão mental;
-sorriso torto e dificuldade para engolir;
-dificuldade de falar ou compreender o que os outros falam;
-alteração na visão (em um ou nos dois olhos);
-tontura, desequilíbrio ou dificuldade de se movimentar;
-dor de cabeça muito forte, súbita, e acompanhada de vômitos.
Como reduzir os riscos?
O neurologista explica que existem vários fatores que aumentam as chances de uma pessoa sofrer AVC. Os principais são colesterol alto, hipertensão, diabetes, sobrepeso, tabagismo, uso excessivo de álcool, ser idoso, sedentarismo, uso de drogas, histórico na família e ser homem.
“Alguns desses fatores não podem ser mudados, outros dependem dos hábitos da pessoa, e são esses que precisam ser modificados para aumentar as chances de não ter a doença”, explica o profissional.
O médico acrescentou que “é orientação geral para evitar AVC e outras doenças crônicas como câncer e diabetes não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, ter uma alimentação saudável, manter o peso ideal e a pressão sob controle, além de ingerir bastante água”, recomendou o neurologista.