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Endometriose: doença atinge uma a cada dez mulheres no Brasil

Especialista em cirurgia por vídeo, Thiers Soares explica os principais sintomas e tratamentos para doença que já atingiu Tatá Werneck, Wanessa Camargo e Malu Mader

Segundo dados do Ministério da Saúde, uma a cada dez mulheres entre 25 a 35 anos no Brasil sofre de endometriose, doença inflamatória do sistema reprodutor feminino, que acontece quando o endométrio, tecido que reveste o útero por dentro, se implanta em vários locais na cavidade abdominal, como ovário, intestino e bexiga. Durante o mês de março, campanhas como o Março Amarelo, mês mundial de conscientização da endometriose, reforçam a importância sobre os cuidados com a saúde da mulher em relação à doença.

De acordo com Thiers Soares, especialista em cirurgia por vídeo e robótica, muitos casos demoram anos para serem diagnosticados. O atraso médio mundial é de oito anos entre as primeiras queixas e o diagnóstico definitivo. A identificação acontece, muitas vezes, a partir de exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve.

“A demora em diagnosticar os focos da doença pode levar ao estado mais grave do quadro, quando é necessário partir para uma intervenção cirúrgica”, explica o médico. Mesmo assim, é importante lembrar que a endometriose não tem cura. Ela é uma condição crônica, que deve ter acompanhamento constante.

No Brasil, 15% das mulheres, ou sete milhões, sofrem com a doença. Famosas como a apresentadora Tatá Werneck, a cantora Wanessa Camargo e a atriz Malu Mader já relataram sofrer com a condição e recorreram à cirurgia para aliviar as dores. Muitas mulheres manifestam o medo de não conseguirem engravidar devido a endometriose, mas o especialista em laparoscopia e robótica afirma que com o tratamento adequado para cada caso, é totalmente possível que a paciente tenha uma vida reprodutiva normal.

Principais sintomas

Entre os principais sintomas da endometriose estão as cólicas fortes – as quais podem impedir a mulher de praticar atividades comuns, como trabalho e exercícios físicos – e as dores abdominais frequentes, que podem também ocorrer fora do período menstrual. Além desses, também são comuns:
=Sangramento menstrual desregulado e intenso;
=Fadiga e cansaço;
=Sangramento intestinal durante o período menstrual;
=Dores fortes durante relações sexuais;
=Dificuldade de engravidar;

Tratamentos avançados diminuem riscos e cicatrizes

Primeiramente é importante realizar um acompanhamento com o ginecologista para entender o grau da condição e como prosseguir com o tratamento. Muitas vezes, o uso do anticoncepcional para suspender a menstruação é adotado para reduzir as dores.

Mesmo assim, quando necessário intervenções cirúrgicas, a ciência já avançou bastante para garantir procedimentos mais simples, que causem menos impacto na rotina dos pacientes.

Em alguns casos, recomenda-se a videolaparoscopia, cirurgia para a retirada dos focos de endometriose espalhados pelos órgãos. “A maioria das pessoas não sabe, mas existem métodos minimamente invasivos para esse procedimento, como a videolaparoscopia e a cirurgia robótica”, explica o especialista. Essas técnicas têm um pós-operatório muito mais seguro, com menos tempo de internação, menos chance de infecção e trombose, retorno mais precoce às atividades diárias e ao trabalho, entre outras vantagens.

Com os avanços tecnológicos, atualmente, a robótica é a técnica mais moderna e chega como alternativa para diminuir a necessidade de procedimentos mais complexos. Diferente da videolaparoscopia, a modalidade traz a visão 3D para a rotina do cirurgião, com movimentos mais refinados e articulação dos instrumentos muito mais ampla em comparação com a videolaparoscopia. Apesar da facilidade, nem todos os profissionais estão aptos a trabalhar com o equipamento, sendo necessário uma habilitação especial.

Segundo o especialista, campanhas como o Março Amarelo ajudam no alerta para identificar a doença, onde “a informação é o primeiro passo para o diagnóstico precoce e, com isso, evitarmos o comprometimento da qualidade de vida das pessoas afetadas por essa doença tão enigmática”, afirma.

Fonte: Thiers Soares é graduado em Medicina pela Faculdade de Teresópolis e Residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Instituto Fernandes Figueira – Fiocruz, RJ. Especialização em Endoscopia Ginecológica também peloFiocruz e Robótica pelo Memorial Hermann Institute, Houston, EUA. Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil) no Rio de Janeiro.

Cannabis medicinal é eficaz no tratamento da endometriose

Mulheres possuem grande quantidade de receptores da substância nos órgãos reprodutivos

No Brasil, a endometriose acomete cerca de 15% das mulheres, ou seja, 6,5 milhões de brasileiras por ano. O tratamento da dor secundária da endometriose constitui um desafio histórico na prática clínica e muitos destes tratamentos são à base de hormônios, com uma série de efeitos colaterais.

Segundo artigo da Medical Cannabis Network, os órgãos pélvicos femininos possuem uma densidade muito alta de receptores canabinm0ides, fazendo com que o tratamento da endometriose com medicamentos à base de cannabis seja promissor, principalmente nos sintomas desse distúrbio. “Os receptores canabin0ides são locais onde as substâncias medicinais da planta se ligam e produzem seus efeitos medicamentosos”, explica Maria Teresa Jacob, médica que atende pacientes com a cannabis medicinal.

A Cannabis tem sido utilizada para tratar várias complicações ginecológicas e outras doenças em todo o mundo, pois restabelece o equilíbrio do organismo com menor incidência de efeitos colaterais. “A endometriose, patologia relativamente frequente entre mulheres na fase reprodutiva, compromete enormemente a qualidade de vida pela dor severa e por complicações genitourinárias. Estudos demonstram que a cannabis atua na melhora da dor, com recuperação da qualidade de vida e diminuição de complicações”, completa a médica, que também é especialista em dor crônica.

Os fitocanabinoides, substâncias presentes na cannabis, apresentam alívio para diversos incômodos que acometem as mulheres, sendo uma alternativa mais eficaz e menos invasiva. “Estudos anteriores sugerem que a cannabis tem a capacidade de mitigar problemas de sono, irritabilidade e dor nas articulações, portanto, pode desempenhar um papel significativo em alguns dos sintomas associados à tensão pré-menstrual”, apontam no artigo.

A utilização da cannabis como medicamento não é de hoje, inclusive era receitada pelo médico inglês Sir Reynolds para tratar as cólicas menstruais da rainha Vitória, no século 19. Reynolds foi responsável pela primeira publicação sobre o uso da planta para dor, seus efeitos terapêuticos e adversos na revista científica Lancet, em 1890. “Da mesma forma, observa-se melhora na tensão pré-menstrual, nas cólicas menstruais, nos sintomas indesejáveis da menopausa, nas dores pélvicas crônicas e no desempenho sexual”, finaliza Maria Teresa.

Fonte: Maria Teresa Jacob é formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí. Pós-graduanda em Endocannabinologia, Cannabis y Cannabinoides na Universidade de Rosário, Argentina. Residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Especialista em Anestesiologia, Título de Especialista em Acupuntura e Título de Especialista em Dor. Especialização em Dor, na Clinique de la Toussaint em Strassbourgo, França, Cannabis Medicinal e Saúde, na Universidade do Colorado, Cannabis Medicinal. Membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), da International Association for Canabinoid Medicines (IACM), da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS) e da Sociedade Europeia de Dor (EFIC). Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinoide em diversas patologias na Bem – Centro de Saúde e Bem Estar, Campinas.

Lançado primeiro clube de assinatura para auxiliar mulheres com endometriose

Projeto EndoConectadas trará conteúdo com curadoria especial de Caroline Salazar, ativista responsável pela EndoMarcha Time Brasil e autora do blog A Endometriose e Eu

O EndoConectadas será lançado no dia 3 de agosto, como o primeiro Clube de Assinaturas para mulheres portadoras de endometriose no Brasil. A ideia do projeto é de Caroline Salazar, ativista da endometriose, autora do blog pioneiro sobre o assunto, A Endometriose e Eu, e capitã da EndoMarcha Time Brasil (Marcha Mundial de Conscientização sobre a Endometriose).

“O EndoConectadas surgiu para informar e empoderar as mulheres com endometriose e auxiliá-las na busca por um tratamento completo e eficiente”, afirma Caroline, que compartilha sua história e fatos científicos sobre a endometriose desde 2010 com suas seguidoras.

As assinantes do EndoConectadas terão acesso a conteúdo exclusivo preparado por Caroline em vídeos semanais, que contarão com especialistas e serão separados em editorias, entre eles o EndoCiência – Descomplicando a Endometriose, Superando a EndoInfertilidade, Sendo Mãe de uma EndoMenina, Como Apoiar uma EndoMulher e Entrevistas ao Vivo – as lives especiais que contarão com a participação das assinantes.

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O valor da assinatura é de R$ 39,90 mensais, mas o pré-lançamento – entre os dias 31 de julho e 2 de agosto – contará com um condições especiais para as assinantes. Para se associar, visite o site A Endometriose e Eu a partir do dia 30 de julho.

Sobre Caroline Salazar e o blog A Endometriose e Eu

Caroline Salazar é jornalista, autora do blog A Endometriose e Eu e ativista pela conscientização da endometriose. A partir da criação do blog, em 2010, Caroline se tornou referência no assunto entre pacientes, familiares de pacientes e especialistas sobre a doença em todo o mundo. O blog A Endometriose e Eu traz entrevistas e artigos exclusivos, com pesquisadores nacionais e internacionais sobre a doença.

Em 2014, Caroline Salazar capitaneou a primeira edição da EndoMarcha Brasil – a Marcha Mundial de Conscientização Sobre a Endometriose. O Brasil, desde então, lidera a marcha com o maior número de cidades participantes. Em 2019 foram 20 cidades participantes. A Marcha de 2020 foi adiada em decorrência da pandemia da Covid-19.

Caroline, a partir do blog, foi a pioneira no Brasil a abordar assuntos como a dispareunia (dor durante a relação sexual) e seu tratamento, além de disseminar no país o uso do termo Março Amarelo. Também colaborou com a criação do texto do PL 3047/19, apresentado pela deputada federal Daniela do Waguinho (RJ) e que prevê a instituição do dia 13 de março como o Dia Nacional de Luta Contra a Endometriose e a Semana Nacional de Luta Contra a Endometriose.

Confira 20 livros em formato digital, gratuitos, sobre saúde e fertilidade

Obras abordam infertilidade feminina e masculina, endometriose, alimentação, fertilização in vitro, congelamento e doação de óvulos, entre outros temas

Muita gente está aproveitando o período de quarentena para ler mais. Se o livro for gratuito, melhor ainda. Pois o IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia) está relançando, em versão e-book e gratuita, todos os livros escritos pelo médico Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do instituto.

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Há também os livros criados apenas em versão digital. São obras que têm somente o especialista como autor, ou foram escritas em parceria com outros médicos e profissionais ligados à área da saúde, como nutricionistas e psicólogos.

Os livros são voltados a casais, ou a mulheres e homens, que estão tendo dificuldades para engravidar, e também para ginecologistas e médicos que querem entender mais ou enveredar pela área da reprodução humana.

A maioria dos títulos fala sobre infertilidade, porém, há outros temas como endometriose, adenomiose, obesidade e alimentação. Além destes, há um voltado a crianças, explicando o processo de fertilização in vitro. O livro foi feito em formato de revista em quadrinhos.

Abaixo, todos os 20 títulos disponíveis atualmente, lembrando que novas obras podem ser acrescentadas à lista.

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– Guia da Endometriose
– Guia da Adenomiose
– Doação e Recepção de Óvulos
– Fertilidade e Alimentação
– Gravidez na Sexualidade
– A Fertilidade do Homem
– Obesidade e Fertilidade

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– Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões
– Inflamações Crônicas “Silenciosas” que Perturbam a Fertilidade
– Como Aumentar as Chances de Sucesso nos Tratamentos de Fertilização
– Abortos Podem ser evitados
– Congelamento de Óvulos
– Fertilização in vitro, um Ato de Amor
– Coito Programado e Inseminação Intrauterina
– Biópsia Embrionária na FIV
– Os Tratamentos de Fertilização em Casais Homoafetivos
– Os Tratamentos de Fertilização Para Mulheres Maduras
– Os Tratamentos de Fertilização Para Mulheres Más Respondedoras
– Miomas Uterinos e a Infertilidade
– Um Bebê e Duas Cegonhas (infantil e em formato de HQ)

CAPA CEGONHAS OFICIAL

Para ler ou baixar os livros, clique aqui.

Sobre o autor

Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área médica como Fertilidade Natural (Ed. LaVida Press), Grávida Feliz, Obstetra Feliz (LaVida Press), Fertilização um ato de amor (LaVida Press), Manual da Gestante (Ed. Madras) e Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões (Ed. LaVida Press).

 

Mês Mundial de Conscientização sobre Endometriose

O que é, sintomas, tratamentos, alimentação e novidades

Março é o Mês Mundial de Conscientização Sobre a Endometriose e é quando é realizada a campanha Março Amarelo. São ações para alertar para uma doença de saúde reprodutiva comum. Estimativas da World Endometriosis Research Foundation sugeriam, em 2018, que a endometriose afetaria cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo. No Brasil, ela atinge uma em cada dez mulheres.

Ela ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento uterino (o endométrio) cresce fora do útero. Vale lembrar que ela esta fortemente associada à infertilidade e que até 50% das mulheres que necessitam de tratamento para engravidar têm este problema.

Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, explica o que é endometriose, os sintomas, tratamentos, cirurgias, medicamentos, novos estudos, dá dicas de alimentação e elucida dúvidas por meio de 18 mitos e verdades.

Sintomas

Os sintomas mais comuns da endometriose são cólica, menstruação irregular, dor pélvica e infertilidade. O tratamento da endometriose profunda é sempre cirúrgico, feito por videolaparoscopia, é algo extremamente complexo e exige médicos qualificados e experientes neste tipo de intervenção. “Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença”, admite Cambiaghi.

Medicação

mulher tomando remedio probiotico suplemento

“Muitas pesquisas têm sido feitas no desenvolvimento de medicamentos que podem ser usados para aliviar os sintomas associados à endometriose. Além dos medicamentos já estabelecidos, o principal deles no momento, e que foi lançado na Europa em 2018, é o Elagolix, que promete ser a nova sensação nos tratamentos do distúrbio”, diz Cambiaghi, que acrescenta: “O diferencial deste fármaco em comparação aos outros da mesma categoria é que se trata de um antagonista da GnRH que pode ser administrado por via oral, diferente de outros como Zoladex (acetato de gosserrelina), Lectrum (acetato de leuprorrelina), Lupron (acetato de leuprorrelina) que são injetáveis”.

Melatonina ajuda a combater endometriose, além de melhorar a fertilidade

A melatonina é um hormônio produzido no sistema nervoso central pela glândula pineal, uma pequena glândula situada no cérebro que ajuda a controlar o ciclo natural de horas de sono e de vigília e, por isso, é conhecida como “o hormônio do sono”, regulando os ciclos circadianos (dormir-acordar). Sua produção é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Tem papel benéfico e recuperador na qualidade do sono.

Quantidades muito pequenas são encontradas em alimentos como carnes, grãos, frutas, legumes e até no vinho tinto. Uma vez sintetizada, a melatonina não é armazenada na glândula pineal, mas é logo liberada para a corrente sanguínea e outros fluidos corpóreos como bile, saliva, liquor, sêmen, líquido amniótico e fluido folicular. “Já é documentado que a melatonina é um excelente antioxidante natural. A partir dos 30, 40 anos poderá prevenir – ou pelo menos retardar – doenças relacionadas com o envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios”, afirma o médico.

Fertilidade

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Foto: Veggiegretz/Morguefile

Nos eventos reprodutivos como a formação dos folículos ovulatórios (foliculogênese), atrofia dos folículos (atresia folicular), ovulação, maturação dos óvulos e formação do corpo lúteo, há envolvimento de radicais livres. Estudos têm demonstrado que a qualidade dos óvulos e dos embriões depende não só da formação genética e cromossômica, mas também do ambiente onde os óvulos se desenvolvem (fluido folicular que envolve os oócitos antes da ovulação). Assim, a melatonina, com sua ação antioxidante é essencial e tem papel benéfico no processo reprodutivo.

Grandes quantidades de melatonina são encontradas no fluido folicular periovulatório (líquido que envolve o óvulo dentro do folículo), com concentrações maiores do que no sangue periférico. O próprio ovário parece produzir melatonina (pelas células da granulosa), mas a maior parte é absorvida da circulação sanguínea. Quanto maior o folículo, maior a concentração de melatonina.

Além de sua ação antioxidante, a melatonina também regula a função ovariana através da regulação da liberação de gonadotrofinas no eixo hipotálamo hipofisário. Os hormônios sexuais têm um importante papel no crescimento e diferenciação de células ovarianas. A melatonina influencia na produção desses hormônios – progesterona, estradiol e androstenediona – em diferentes estágios da maturação folicular, podendo diminuir ou aumentar suas concentrações.

Durante o processo de ovulação, grande quantidade de radicais livres é produzida. Esse excesso induz à apoptose (morte celular programada), resultando na atresia folicular (atrofia dos folículos). Níveis aumentados de melatonina diminuem a quantidade de radicais livres prevenindo essa atresia.

O folículo é resgatado pela melatonina e continua seu desenvolvimento até se tornar um folículo dominante. O balanço entre radicais livres e antioxidantes tem papel importante na maturação do óvulo (oócito) e na fertilização. A ação antioxidante da melatonina melhora a qualidade do oócito. A melatonina estimula diretamente a liberação de progesterona pelo corpo lúteo e o protege da ação de radicais livres conferindo manutenção da função lútea.

A falta de melatonina está relacionada ainda com endometriose e com a Falência Ovariana Prematura (FOP). Em pacientes com SOP há diminuição de melatonina no fluido folicular. Em pacientes com infertilidade, o tratamento com melatonina melhora a qualidade do oócito além de melhorar as taxas de fertilização e reduzir os danos oxidativos no fluido folicular. Entretanto, o uso de melatonina para pacientes com SOP, FOP e endometriose é limitado.

Cirurgia

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Estudo feito por médicos franceses do CHU (Centre Hospitalier Universitaire) Clemont Ferrand, em 2018, mostrou que a cirurgia de endometriose reduz não só a dor pélvica, como aquela sentida durante a relação sexual, além de melhorar a qualidade de vida das pacientes. Os pesquisadores avaliaram a dor sentida por mulheres com endometriose antes e depois da cirurgia laparoscópica. Além disso, analisaram as respostas que as pacientes deram em um questionário sobre qualidade de vida.

O resultado médio para dor caiu de 5,3, antes da cirurgia, para 2,6, seis meses após a intervenção, e para 2,3, três anos após a operação. A dor pélvica crônica caiu de 2,6 antes da intervenção para 1,4 após seis meses da cirurgia, e para 1,3 três anos após a operação. Já a dor durante a relação sexual caiu de 2,7 para apenas 1,1, seis meses após o procedimento.

Número que permaneceu praticamente o mesmo três anos após a cirurgia: 1,2. Os resultados foram animadores também para a qualidade de vida das mulheres no aspecto dor corporal. A melhora foi de 54,6 para 74,4, seis meses após a cirurgia. Já a melhora nas limitações físicas que a endometriose causava saltou de 63,3 para 81,9, seis meses após a cirurgia.

O mesmo ocorreu no quesito qualidade de vida, que aumentou de 66 para 75,6 seis meses após o procedimento. A melhoria nas limitações, devido a problemas emocionais, aumentou de 65,7 para 77,4 após o procedimento. E o mais importante: os resultados não mudaram ao longo dos anos.

“A cirurgia exige do médico consultante um conhecimento abrangente do problema, pois pode atingir vários órgãos. Conhecida por alguns como uma ‘doença sem cura’, pois mesmo tratada pode reaparecer, a endometriose tem esta fama por receber de alguns profissionais um acompanhamento inadequado e insuficiente, principalmente nos casos de endometriose ovariana e endometriose infiltrativa profunda. Nesses casos é fundamental o acompanhamento de profissionais especializados em infertilidade e que tenham experiência em cirurgia pélvica para uma resolução satisfatória”, frisa  Cambiaghi.

Estudo

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Um estudo colaborativo entre pesquisadores da Universidade de Southampton e do Centro de Fertilidade Completa do Hospital Princesa Anne, publicado no Scientific Reports*, em 2016, verificou que a qualidade do óvulo fica severamente comprometida em mulheres que têm endometriose. A descoberta foi que o fluído dos folículos de pacientes com endometriose bloqueia a maturação do óvulo gerando radicais livres chamados de Reactive Oxygen Species – ROS (espécies reativas de oxigênio. em tradução livre) e danificam o DNA.

Este dano faz com que o óvulo não amadureça e, assim, não possa ser fertilizado. Porém, mais pesquisas são necessárias para investigar se o problema é tratável ou evitável. O estudo utilizou óvulos imaturos de fêmeas de ratos que foram incubados em fluído folicular de mulheres com endometriose, in vitro. Os pesquisadores examinaram as quantidades de ROS que foram geradas e a capacidade do óvulo de amadurecer. Descobriram que o fluído folicular de mulheres com endometriose resultou em maiores quantidades de ROS.

Para os cientistas é encorajador ver a possibilidade de os danos serem prevenidos por antioxidantes, mas mais pesquisas são necessárias antes que possam por em pratica os resultados. Cambiaghi afirma que a pesquisa apenas corrobora o que já se desconfiava há anos: “Esse estudo reforça a interferência da endometriose na fertilidade feminina e confirma que os radicais livres também têm importância comprovada na infertilidade. Entretanto, não podemos esquecer que tratamos a endometriose utilizando a videolaparoscopia e temos conseguido resultados excelentes. Por isso, ela é considerada uma ótima estratégia para o tratamento”.

Tratamento não hormonal

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Ilustracao Giemsa Stain

Cientistas descobriram que certo tipo de célula imunológica pode ser uma das principais causas de dor pélvica em mulheres com endometriose. Os crescimentos anormais, ou lesões, da endometriose podem causar inflamação persistente, dor e infertilidade. Outros sintomas incluem menstruação dolorosa, fadiga, sangramento intenso e dor durante a relação sexual. Até agora não há cura para a endometriose. A cirurgia pode remover algumas lesões e tecido cicatricial.

Tratamentos hormonais podem oferecer alívio dos sintomas, mas, muitas vezes, trazem efeitos colaterais após o uso prolongado. Desse modo, há necessidade de drogas não hormonais. Nesse estudo, de 2019, pesquisadores das Universidades de Warwick e Edimburgo, ambas no Reino Unido, descobriram que a causa da dor da endometriose é um tipo de glóbulo branco, chamado macrófago, que sofreu mudanças como resultado da doença. A equipe relata as descobertas em um artigo do Faseb Journal**.

“Os macrófagos podem ser considerados células de limpeza do corpo, e são muito importantes para o sistema imunológico. Eles alertam sobre a presença de agentes estranhos”, afirma Cambiaghi. Ele explica que os tratamentos convencionais que usam hormônios “não são ideais” porque têm como alvo a função ovariana, e podem desencadear efeitos colaterais, como a supressão da fertilidade.

Um conjunto final de testes revelou que impedir a atividade do hormônio, bloqueando o receptor da célula para o IGF-1, “reverte o comportamento da dor observado em camundongos com endometriose”. O fato de sinais no ambiente tecidual local poderem alterar a função dos macrófagos não é novo. No entanto, essas descobertas lançam uma nova luz sobre o que acontece com os macrófagos no caso específico da endometriose. “Este novo estudo traz luz a uma doença complexa, como é a endometriose. E toda novidade positiva tem de ser comemorada. Esta descoberta pode mostrar novas formas de aliviar os sintomas das que vivem com a doença”, enfatiza Cambiaghi.

Alimentação correta pode diminuir os sintomas

Muito se tem insistido na importância de uma alimentação correta para praticamente tudo na vida. Com a fertilidade não é diferente. Mesmo pessoas que tenham alguma doença também podem contribuir para a diminuição dos sintomas seguindo uma dieta saudável.

É o caso de um dos males que mais afeta a fertilidade feminina: a endometriose, doença enigmática que vem crescendo pelo mundo. Estima-se que de 10% a 14% das mulheres em sua fase reprodutiva (19 a 44 anos) e de 25% a 50% das inférteis sejam acometidas por este mal. Muitas mulheres chegam a sentir tanta dor que se veem impossibilitadas de viver uma vida normal e até mesmo a faltar no trabalho.

Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença. Assim, estudos diversos relacionam a melhora das dores com algumas intervenções nutricionais pontuais, como aumento do consumo de fibras, substituição de gorduras de animais por óleos de boa qualidade e consumo adequado de vitaminas antioxidantes como A, C, E e complexo B.

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São boas fontes de vitamina A: damascos, pêssegos, melão cantalupo e vegetais verde-escuros e amarelo-escuros.

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Das vitaminas A e C: abóbora, tomate, manga, mamão papaia e couve.

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Da vitamina E: frutas cítricas, morangos, pimentas, repolho, batata-doce e brócolis.

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Já as vitaminas do complexo B são encontradas em ovos e laticínios (prefira orgânicos), leguminosas e alimentos integrais.

Há também aqueles alimentos que podem agravar a dor como os industrializados, produzidos com excesso de gordura hidrogenada, farinha e açúcar refinado. Os de origem animal são a maior fonte de substancias hormonalmente ativas, pois o tecido gorduroso e produtos à base de gordura animal são grandes retentores de xenoestrogênio, bem como antibióticos, drogas veterinárias e hormônios para estimulo do crescimento. Assim, o ideal é evitar embutidos, carnes vermelhas, leite e derivados não-orgânicos, além de gorduras saturadas.

Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.

Confira 18 mitos e verdades sobre endometriose

A endometriose é uma doença de saúde reprodutiva comum, que ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento uterino (o endométrio) cresce fora do útero. Porém, como muitas outras, ela é cercada de muitos mitos e crenças. O médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, comenta 18 mitos muito comuns sobre a doença. Confira:

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Foto: Is-Med.com

1 – É fácil diagnosticar a endometriose
Mito: não é fácil diagnosticar a endometriose. É comum que demore até cerca de 8 anos, essa é a média esperada para o diagnóstico da endometriose. Essa é uma das primeiras dificuldades na vida reprodutiva da mulher: o diagnóstico não ser feito precocemente. Uma mulher que chega ao consultório de um ginecologista reclamando de cólica, menstruação irregular e infertilidade, as chances de ter endometriose são muito altas. Se ela acrescentar cólicas muito fortes, abdômen inchado, dor ao evacuar, dor para urinar e dor durante a relação sexual, essa paciente deve ter endometriose profunda. Se o médico estiver atento, o diagnóstico não será difícil, pois a endometriose será uma possibilidade bastante provável.

2 – É normal que os períodos da menstruação sejam extremamente dolorosos
Verdade: mulheres com endometriose se referem a cólicas fortes durante a menstruação. Portanto, se uma mulher estiver sentindo uma dor severa e que não encontra alívio com medicação, a endometriose pode, sim, ser a causa do problema. O melhor é marcar uma consulta com o ginecologista.

3 – Os sintomas estão sempre presentes em mulheres com endometriose
Mito: nem sempre, algumas mulheres não sentem dor alguma, elas só vão perceber que têm endometriose quando forem ao ginecologista e ele pedir um exame de ultrassom de rotina.

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Foto: Jeviniya-Pixabay

4 – Terapias complementares não têm lugar no tratamento da endometriose
Mito: são sempre alternativas possíveis. Porém, o tratamento da endometriose é basicamente cirúrgico, por vídeolaparoscopia, no qual se ressecam as lesões endometrióticas. Podem ser complementos, além dos medicamentos convencionais, terapias como acupuntura, naturopatia e ioga. Porém, sem o tratamento cirúrgico não haverá resultado.

5 – Mulheres com endometriose não podem ter filhos
Mito: cerca de 30% das mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar. Quando se realiza uma pesquisa correta, por meio de exames complementares, como ultrassom e ressonância magnética, é possível diagnosticar em detalhes a doença e, em seguida, realizar a cirurgia ressecando esses focos de endometriose. Após esse tratamento, a mulher pode engravidar, mas é importante que não se esqueça de avaliar também outros problemas de infertilidade, como obstrução tubária, trombofilias, fator ovulatório e fator masculino. Muitas vezes se foca tanto na endometriose que se esquece de verificar a fertilidade do homem.

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Foto: Veggiegretz/Morguefile

6 – Gravidez cura endometriose
Mito: este é um dos maiores mitos sobre o problema. Gravidez não cura endometriose. Pode amenizar os sintomas, mas a melhora só é possível com a realização da cirurgia e, mesmo assim, não há garantia de cura da doença. Isso porque os sintomas podem ser amenizados, mas se for algo provisório, a doença pode voltar com o tempo.

7 – Histerectomia cura endometriose
Mito: a endometriose é um tecido endometrial fora do útero. A remoção do útero e/ou dos ovários, sem remover os importantes focos de endometriose não levará à cura. Portanto, histerectomia não cura endometriose, e é um erro gravíssimo acreditar que tirar o útero será a solução para a doença.

8 – Mulheres com endometriose devem evitar exercícios físicos
Mito: pelo contrário, o exercício físico ajuda a melhorar a vascularização e a circulação sanguínea, isso pode amenizar o mal-estar e as cólicas. Mulheres com endometriose devem, sim, realizar exercícios físicos. Além disso, podem tomar outras atitudes como manter uma dieta alimentar adequada.

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9 – Adolescentes não têm endometriose
Mito: muito pelo contrário. Muitas já têm sintomas de endometriose no início da adolescência e é fundamental que se faça um diagnóstico precoce para se evitar as complicações futuras, como a infertilidade e o comprometimento de outros órgãos. Isso porque, em casos de endometriose mais avançada, é necessário fazer cirurgias muito mais agressivas. O diagnóstico precoce da endometriose é fundamental e não deve ser descartado porque a paciente é adolescente.

10 – Mulheres com endometriose sofrem dor somente durante o período menstrual.
Mito: a dor pode ser intermitente ou contínua. Ela é mais frequente nos períodos menstrual e pré-menstrual. Às vezes, pode ocorrer durante ou após a atividade sexual, o que é mais comum quando houver um comprometimento do intestino ou bexiga, ou regiões próximas ao fundo da vagina.

11 – Endometriose é mais comum entre mulheres caucasianas na faixa dos 20 e 40 anos.
Mito: até meados do século 20, pensava-se que o problema existia apenas em mulheres brancas. Isso acabou sendo resultado da falta de cuidados médicos contínuos para muitas mulheres afrodescendentes. Hoje, inclusive, se entende que qualquer mulher, de qualquer etnia, adolescente ou mais velha, pode ter endometriose.

12 – A endometriose não tem cura
Verdade: infelizmente, não há cura. Quando a endometriose é diagnosticada criteriosamente e existe o mapeamento da doença por meio de exames complementares, como ressonância magnética e ultrassom, e um bom exame ginecológico, pode se realizar uma cirurgia bem detalhada para que se ressequem todos os focos da endometriose. Mulheres que passaram por uma cirurgia bem indicada e pelas mãos de profissionais qualificados, alcançam uma cura provisória por muitos anos. E pode ser até que nunca mais tenham endometriose, mas não de pode descartar que existe chance de a doença voltar.

MULHER DOR ESTOMAGO COLICA

13 – A endometriose afeta apenas os órgãos pélvicos.
Mito: embora a endometriose encontra-se principalmente na região pélvica, pode ser descoberta em outros órgãos, como diafragma, pulmão, parede abdominal, estômago e até mesmo nos olhos.

14 – Qualquer ginecologista pode efetivamente tratar a endometriose.
Parcialmente verdade: os ginecologistas, de um modo geral, estão preparados para o diagnóstico e para o tratamento, desde que estejam atentos aos sintomas e saibam mapear a doença. Porém, o tratamento cirúrgico, feito por laparoscopia, deve ser realizado por profissionais qualificados que tenham experiência em laparoscopia e em cirurgia pélvica. Encontrar um especialista em endometriose pode ser fundamental para o sucesso do tratamento.

15 – A endometriose sempre piora.
Parcialmente verdade: para algumas mulheres, sim, pode piorar. Isso porque muitas vezes a endometriose se comporta como uma doença benigna, progressiva e invasiva. Ou seja, ela vai invadindo os órgãos com o passar do tempo. Por isso o diagnóstico precoce é fundamental.

mulher calor fogacho menopausa

16 – Menopausa cura a endometriose.
Mito: a diminuição dos níveis hormonais pode amenizar a endometriose, porém, os focos vão permanecer. No caso de uma reposição hormonal, comum na menopausa, esses focos poderão retroceder a endometriose, abrandar a dor, diminuir o inchaço, amenizando os sintomas, mas não cura a doença.

17 – É comum confundir a endometriose com a síndrome do intestino irritável (SII)
Verdade: isso pode acontecer em uma fase inicial, pois os sintomas intestinais podem ser confundidos. Faz parte do diagnóstico diferencial verificar se a dor pélvica é uma endometriose, um problema intestinal ou até mesmo um problema urinário. Entretanto, com os exames complementares de ultrassom e ressonância magnética, é possível diferenciar uma da outra.

18 – A endometriose pode ser prevenida
Mito: não existe uma maneira de se prevenir. Porém, ter bons hábitos, boa alimentação e rigor no estilo de vida pode amenizar sintomas ou diminuir a chance dela surgir.

Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.

Mês da mulher: ginecologista esclarece algumas dúvidas sobre endometriose

Em homenagem ao mês da mulher, a especialista do H9J fala sobre algumas lendas relacionadas a doenças e destaca a cirurgia robótica como um dos tratamentos mais procurados contra a endometriose

Março é o mês de conscientização da endometriose e, para aproveitar o momento e falar dos cuidados com a saúde da mulher, Bárbara Murayama, ginecologista e Coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, revela algumas respostas para as dúvidas mais comuns sobre a doença. “Muitas mulheres não conseguem o diagnóstico rápido da doença e podem sofrer até descobrir o tratamento mais assertivo” observa a especialista.

Quando o endométrio, tecido responsável pelo revestimento do útero passa a crescer fora do órgão, como nos ovários e tuba, intestino etc, a mulher pode ter uma série de sintomas que incluem cólicas intensas, dor durante a relação sexual, constipação ou mesmo infertilidade. Bárbara explica que os sintomas, caso não sejam tratados, podem alterar drasticamente o convívio social e a rotina da mulher. A especialista lembra ainda que há muitas dúvidas sobre como é caracterizada a doença, quais são os fatores de risco, sintomas e faixa etária de risco.

Para responder algumas dúvidas sobre a doença, Bárbara esclarece alguns pontos abaixo. Confira:

P-O tratamento da endometriose é feito apenas por intervenção cirúrgica?

Bárbara Murayama-A intervenção cirúrgica é parte do tratamento em muitos casos da doença, mas faz parte de uma gama de soluções para o controle da dor como o uso de medicações hormonais. Caso seja realmente indicada a intervenção cirúrgica, o procedimento robótico tem se mostrado cada vez mais efetivo pela rápida recuperação da paciente, menor perda de sangue durante o procedimento. Já para o médico, facilita na melhor visualização de pequenas lesões no endométrio com a visão 3D e maior assertividade no tratamento.

mulher deitada na cama dor doente

A endometriose causa dores intensas relacionadas a menstruação?

BM-As cólicas menstruais estão entre as dores que mais acometem as mulheres. Um dos sintomas mais característico de endometriose é a cólica intensa, incapacitante e com aumento progressivo da dor. Esse, porém, não é sempre o principal sintoma da doença, cujo tecido endometrial pode estar alojado em outras partes do corpo e muitas mulheres, apesar das lesões, não apresentam sintomas.

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P-Mulheres acima dos 30 anos têm maior risco de serem diagnosticadas com a doença?

BM-Não há uma faixa etária definida. Alguns diagnósticos são mais comuns em mulheres acima dos 30 anos, mas a doença pode atingir qualquer mulher a partir da primeira menstruação, durante toda a fase reprodutiva e, apesar de raro, na menopausa.

P-A endometriose é diagnosticada por exames de imagem e laboratoriais?

BM-Os exames por imagem são fundamentais para ajudar na investigação e mapeamento da doença. Para que este tipo de exame seja solicitado, porém, é importante que a paciente informe em detalhes o que vem sentindo durante a consulta médica, quando também é feito o exame ginecológico.

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A especialista ainda enfatiza a importância da visita periódica ao ginecologista como a principal forma de acompanhamento da saúde. “Vamos aproveitar o mês da mulher para conscientizar a todas sobre como é fundamental ter um ginecologista de confiança, que precisa ser acionado periodicamente, independentemente de qualquer sintoma”, afirma e finaliza: “até a endometriose pode ser assintomática, por isso, faça a sua parte em prol da saúde”.

Fonte: Hospital 9 de Julho

Endometriose não só dificulta gravidez como aumenta complicações na gestação*

Já é bem estabelecido que a endometriose prejudica a fertilidade, dificultando a gravidez; novo estudo, publicado na revista Fertility & Sterility, demonstra que, mesmo se obtendo a gestação, há um maior risco de complicações ao longo dela

A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de uma textura semelhante a do endométrio (tecido que reveste internamente o útero) fora da cavidade uterina. Acomete principalmente órgãos pélvicos, como ovários, trompas, intestino, parede do útero, bexiga, peritônio, vagina e colo. Estima-se que atinja de 7% a 14% das mulheres em idade reprodutiva, sendo uma das principais causas de dor pélvica. Apesar de ser uma doença benigna, tem alta morbidade, pois o quadro, doloroso, pode ser às vezes incapacitante, o que leva em muitos casos a intenso desgaste físico e mental, com grande comprometimento da qualidade de vida, tanto no aspecto profissional quanto emocional e afetivo.

Além do quadro doloroso, pode levar, por diferentes mecanismos, à infertilidade, chegando a estar presente em cerca de 25% a 50% das mulheres inférteis. Mesmo com técnicas de reprodução assistida, pacientes com endometriose têm menor taxa de gravidez do que as que não apresentam a doença. O tratamento da endometriose pode levar a importante melhora do quadro doloroso, qualidade de vida e fertilidade. Há várias opções de tratamento clínico e cirúrgico e a escolha da melhor opção sempre foi muito controversa, devendo ser individualizado caso a caso.

Endometriose e dor

Quando a paciente não deseja engravidar, um dos maiores objetivos do tratamento da endometriose é melhorar a qualidade de vida, uma vez que a doença está associada a muita dor, algumas vezes, incapacitante. A cirurgia sempre foi considerada o padrão ouro para tratamento da dor associada à endometriose. Entretanto, considerando que os tratamentos clínicos evoluíram muito, a tendência atual é iniciar com o tratamento clínico e, se não houver melhora, optar pelo tratamento cirúrgico.

Quando se opta pela cirurgia, essa deve ser muito resolutiva e eficaz, evitando que novas intervenções necessitem ser feitas no futuro. O sucesso do procedimento depende da ressecção completa das lesões, o que nem sempre é fácil, dependendo muito da experiência do cirurgião. Assim, um ponto muito enfatizado é a necessidade da cirurgia de endometriose ser feita somente por especialistas nesse tipo de procedimento, diminuindo os riscos de complicação, de tratamento incompleto ou ressecções maiores que as necessárias. Essa preocupação é maior se a endometriose for no ovário. Nesses casos, mesmo com cirurgiões experientes, pode haver prejuízo da reserva ovariana e deve-se ter muita cautela em indicar a cirurgia.

Em termos de eficácia, estudos mostram que pacientes sintomáticas têm uma melhora mais rápida com tratamento cirúrgico do que com tratamento clínico. Mas, em longo prazo, a taxa de sucesso é semelhante. Assim, ainda não é consenso qual deve ser a abordagem inicial.

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Foto: Luciana Ferraz/Pixabay

Entre as principais indicações de se iniciar com tratamento clínico, estão:

– Pacientes muito jovens: iniciar com tratamento clínico pode ser uma boa opção para adiar a cirurgia e evitar repetidas intervenções. Alguns autores questionam essa postura, pois seria mais fácil operar uma paciente quando a endometriose está inicial, além de evitar mais sequelas com o avanço da endometriose. Como novos tratamentos clínicos vêm sendo mais eficazes, esses pontos ainda são controversos.

– Situações com risco cirúrgico elevado como pacientes com múltiplas cirurgias abdominais prévias, patologias clínicas que elevem risco cirúrgico, antecedentes de processos inflamatórios pélvicos etc.

Já para pacientes muito sintomáticas ou que não melhoraram com tratamento clínico a cirurgia tem boa indicação.

Já está estabelecido que a endometriose prejudica a fertilidade. Isso se deve a alterações anatômicas na pelve (às vezes com grande distorção da anatomia), o processo inflamatório provocado (prejudicial ao óvulo e espermatozoide, diminuindo as taxas de fertilização), resistência dos ovários (que necessitam de mais medicação para estimulá-los e produzem menos óvulos), além de alterações endometriais, que prejudicam a implantação (por exemplo, secreção de algumas interleucinas, como LIF – leukemia innibitory factor).

A endometriose está presente em 25% a 50% das mulheres inférteis, e sua ocorrência afeta os resultados gestacionais mesmo com técnicas de reprodução assistida. Quando a queixa é somente infertilidade, não existe consenso em qual a melhor abordagem inicial, sendo os estudos controversos. Entretanto, existem algumas tendências que devemos seguir, baseados no que há na literatura médica, opinião de especialistas e nossa experiência.

Há certo consenso que pacientes nas quais a endometriose é o único problema que afeta a fertilidade, não tendo outras causas, como fator masculino, idade avançada, baixa reserva ovariana e alterações de trompas, vão se beneficiar da cirurgia em termos de obter gravidez espontânea ou com técnicas de baixa complexidade (indução da ovulação ou inseminação intrauterina). Tratar clinicamente não parece ter muito benefício nestes casos, principalmente se a endometriose for mais avançada.

Já se a paciente vai ser submetida a técnicas de reprodução assistida de alta complexidade, ou seja, fertilização in vitro (FIV), em geral, opta-se por não operar, principalmente se a endometriose for no ovário, pelo risco de prejudicar a reserva ovariana. Nesses casos, recomenda-se tratamento clínico hormonal por três meses, antes da FIV, melhorando, assim, a chance de sucesso.

Com a FIV, temos resultados satisfatórios em termos de taxa de gravidez em pacientes com endometriose, mas essas taxas normalmente são inferiores a quem não tem a doença, principalmente nos casos mais avançados. Na hipótese de falha com a FIV, a cirurgia pode ser também uma opção para melhorar a chance de sucesso.

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Endometriose e o risco de complicações obstétricas

Apesar de prejudicar a obtenção da gravidez, sempre se acreditou que a endometriose melhorava com a gravidez, que após ter sido conseguida, não apresentava riscos. Entretanto, uma recente revisão sistemática da literatura e meta-análise publicada pela revista internacional Fertility & Sterility, em outubro de 2017, demonstrou que a endometriose pode ser prejudicial à gravidez. Os pesquisadores avaliaram 24 estudos publicados, incluindo 1.924.114 mulheres, comparando os resultados obstétricos daquelas que tinham endometriose com outras sem a doença. Os autores demonstraram que pacientes com endometriose têm risco aumentado de aborto, placenta prévia, parto prematuro, sofrimento fetal e necessidade de cesária, se comparadas a mulheres sem endometriose.

As razões apontadas incluem o fato de que a endometriose causa um processo inflamatório intenso e as citocinas inflamatórias provocam alteração no miométrio (músculo da parede do útero), aumentando o risco de abortos, parto prematuro e alterações placentárias. Além disso, apesar de não ser frequente, a endometriose pode sangrar na gravidez causando hemorragias, assim como levar a perfuração da bexiga ou intestino, quando acomete esses órgãos.

Conclusão

A endometriose pode não só levar à dor, como à piora da qualidade de vida e à infertilidade, mas também a maior risco obstétrico. A cirurgia para endometriose tem inúmeros benefícios. Pode ser útil no controle da dor, no aumento nas taxas de gravidez espontânea e, inclusive, nas taxas da FIV. Além disso, poderia diminuir o risco de aborto e complicações obstétricas.

Entretanto, com o avanço dos tratamentos clínicos, indicar a cirurgia merece cautela, pois muitas vezes ela é extremamente difícil e não é isenta de riscos. Deve sempre ser feita somente por quem tem muita experiência neste tipo de cirurgia e sua indicação deve ser muito bem pensada caso a caso, numa decisão em conjunto com a paciente.

*Arnaldo Schizzi Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área médica.

*Rogério Leão é membro da equipe do IPGO e Médico Assistente na área de Ginecologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM/ UNICAMP). Graduado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Residente em Ginecologia e Obstetrícia, no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM/ UNICAMP). Especializado em Endoscopia Ginecológica, pelo Hospital Pérola Byington (São Paulo –SP) e em Infertilidade Conjugal, pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (São Paulo –SP). 

Novidade para as mulheres com endometriose que lutam para engravidar

Pesquisadores de Southampton, no Reino Unido, podem ter descoberto por que algumas mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar

A endometriose é uma condição crônica que afeta cerca de 10% das mulheres e está associada à dor abdominal crônica, menstruações irregulares e diminuição da fertilidade. Na fase fértil, a mulher produz óvulos maduros. Essa maturação ocorre em estruturas cheias de fluidos no ovário chamados de folículos. Os óvulos maduros são, então, liberados para serem fecundados. No entanto, óvulos de mulheres que têm endometriose são afetados por estarem em um ambiente uterino muito hostil que reduz a fertilidade. Supõe-se que o óvulo em si, antes de ser liberado, não seja afetado pela endometriose.

No entanto, em um estudo colaborativo entre pesquisadores da Universidade de Southampton e do Centro de Fertilidade Completa do Hospital Princesa Anne, verificou que a qualidade do óvulo fica severamente comprometida na endometriose.

Publicado em Scientific Reports*, o estudo descobriu que a capacidade de amadurecer do óvulo foi bloqueada pela endometriose. Além disso, os óvulos poderiam sofrer sérios danos pela exposição ao fluido folicular de mulheres com endometriose.

Um dos pesquisadores da Universidade de Southampton que liderou o estudo comentou que eles acreditavam que esses resultados poderiam ter implicações clínicas para muitas mulheres que lutam para engravidar. A descoberta de que o fluido dos folículos de pacientes com endometriose bloqueia a maturação do óvulo gerando radicais livres chamados de Reactive Oxygen Species-ROS (espécies reativas de oxigênio em tradução livre) no óvulo, danificam seu DNA. E este dano faz com que o óvulo não amadureça e, assim, não possa ser fertilizado. Porém, frisou que mais pesquisas são necessárias para investigar se o problema é tratável ou evitável.

O estudo utilizou óvulos imaturos de ratos que foram incubados em fluido folicular de mulheres com endometriose, in vitro. Os pesquisadores examinaram as quantidades de ROS que foram geradas e a capacidade do óvulo de amadurecer. Descobriram que o fluido folicular de mulheres com endometriose resultou em maiores quantidades de ROS.

A equipe de pesquisa acredita que os efeitos da endometriose em óvulos em maturação poderiam ser prevenidos por antioxidantes. Durante o estudo, a equipe analisou os efeitos de dois antioxidantes. O resveratrol, que é encontrado na película de uvas e berries, e a melatonina, composto liberado durante o sono, foram adicionados ao fluido, o que mostrou reversão nos efeitos negativos; os níveis de ROS diminuíram e mais óvulos foram capazes de amadurecer.

A endometriose é fortemente associada à infertilidade e até 50% das mulheres que necessitam de tratamento de infertilidade tem este problema. Isso pode ser terrivelmente perturbador para um casal, portanto, os pesquisadores veem nesta nova pesquisa uma esperança para os casais que querem ter filhos. Para eles, é encorajador ver a possibilidade de os danos serem prevenidos por antioxidantes, mas mais pesquisas são necessárias antes que possam pôr em pratica os resultados.

Para Arnaldo Cambiaghi, especialista em reprodução humana e infertilidade da Clínica de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), a pesquisa apenas corrobora o que já se desconfiava há anos: “Esse estudo reforça a interferência da endometriose na fertilidade feminina e confirma que os radicais livres também têm importância comprovada na infertilidade. Entretanto, não podemos esquecer que tratamos a endometriose utilizando a videolaparoscopia e temos conseguido resultados excelentes. Por isso, ela é considerada uma ótima estratégia para o tratamento”.

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Mais sobre endometriose

A endometriose é uma doença enigmática que interfere na fertilidade da mulher de várias formas, diminuindo ou impedindo a possibilidade de gravidez, pois interfere na qualidade dos óvulos, na implantação dos embriões e nas trompas, além de outras manifestações. Este tratamento clínico com antioxidantes é uma ótima opção, mas não podemos esquecer que para se conseguir a gravidez muitas vezes a melhor opção é uma cirurgia minimamente invasiva (videolaparoscopia) pode resolver o problema.

“O nome endometriose provém de endométrio, que é um tecido que reveste internamente o útero. A cada mês, estimulado pelos hormônios, este tecido cresce e é eliminado no período menstrual. Porém, pelos motivos mais variados, o endométrio pode implantar-se fora do útero e aí passa a se chamar endometriose”, afirma Cambiaghi. O problema é que mesmo fora do lugar certo, ele recebe a mesma influência hormonal, continua crescendo e descamando na menstruação. Só que como está num local errado, não tem canal de saída. Por isso, forma-se um processo inflamatório que provoca dor e tem como resultado a formação de aderências (tecidos grudados uns aos outros de uma forma desordenada, que são extremamente doloridos e causam o mau funcionamento dos órgãos). Se essas aderências forem próximas a órgãos do sistema reprodutivo da mulher, esta pode ter dificuldades para engravidar.

“A endometriose pode ser encontrada no abdômen, afetando os ovários, trompas, ligamentos que sustentam o útero e em outros locais do aparelho reprodutor feminino. Em algumas ocasiões, as aderências também se encontram nas cicatrizes cirúrgicas abdominais, nos intestinos ou no reto, na bexiga, na vagina, no colo do útero e na vulva (órgãos genitais externos). Em casos mais raros, também aparecem fora do abdome, em locais como os pulmões, braços, entre outros”, diz o médico.

Não é considerada uma doença maligna, pois é apenas uma classe de tecidos normais fora de seu local correto. Embora atualmente estejam sendo estudadas possíveis relações entre o problema e o câncer de ovário. Além disso, a endometriose pode causar inúmeras complicações. Uma delas é a ruptura das lesões, que podem espalhar o problema para outras áreas. Nos casos mais graves, pode até ocorrer sangramento intestinal ou obstrução, se os tumores estiverem no intestino ou próximos a ele. Se estiver perto da bexiga, pode prejudicar seu funcionamento.

A infertilidade ocorre em 30% a 40% das mulheres com endometriose e é um resultado comum com a progressão da doença. Das pacientes que sofrem cirurgia para diagnóstico ou tratamento da infertilidade, metade delas apresenta endometriose. A doença também parece aumentar o risco de gravidez tubária e aborto em mulheres que conseguem engravidar.

Diagnóstico e tratamento

“O exame conclusivo é sempre feito pela videolaparoscopia, uma intervenção minimamente invasiva realizada em hospital, sob anestesia geral, na qual os órgãos são observados por uma vídeocâmera e operados por microincisões. O período de internação, na maioria das vezes, não ultrapassa um dia, e as amostras do tecido são retiradas e levadas a laboratório para exames. Nessa intervenção, além do diagnóstico, são realizadas as cirurgias, como retirada de cistos, aderências e focos de endometriose. Antes dessa avaliação conclusiva, o diagnóstico é suspeitado pelo quadro clínico, pela infertilidade, quando for o caso, e por exames como o ultrassom (cistos ou manchas esbranquiçadas) nos ovários e exames de sangue como o CA125, CA19.9 e, mais recentemente, o SAA (Proteína Sérica Amilóide-A), dão a noção de profundidade das lesões endometrióticas”, finaliza Cambiaghi.

*The sensitivity of the DNA damage checkpoint prevents oocyte maturation in endometriosis, Mukhri Hamdan, Keith T. Jones, Ying Cheong & Simon I. R. Lane, Scientific Reports, doi:10.1038/srep36994, published online 14 November 2016.

Fonte: Arnaldo Cambiaghi é Diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery.

Seis sintomas que podem indicar endometriose

O tema endometriose tem estado muito em voga hoje em dia. É cada vez mais comum pessoas que descobrem ter a doença. Não à toa, já há quem a denomine como “a doença da mulher moderna”.

“Isto se deve há muitos fatores, mas também, provavelmente, pela mudança no estilo de vida das mulheres, que tem retardado a fertilidade, e com isso, aumentado os ciclos menstruais antes de engravidar. Mas, não se devem descartar ainda os fatores imunológicos, o estresse e a poluição, entre outros”, explica o ginecologista e obstetra Tomyo Arazawa, da Alira Medicina Clínica e Cirúrgica.

A doença é a causa de muitos casos de infertilidade nos tempos modernos. Entretanto, com o tratamento adequado, é possível reverter este quadro. Um exemplo disto é a atriz Fernanda Machado, que interpretou a personagem Leila na novela “Amor à Vida” e Maria no filme “Tropa de Elite”. Há alguns meses, a artista divulgou o nascimento do seu primeiro filho, fato que foi muito comemorado depois de Fernanda ter sido diagnosticada com endometriose há cerca de três anos.

Mas, além da infertilidade, há outros sintomas que podem indicar que a mulher está com endometriose. Arazawa lista seis sintomas da endometriose e, no caso da mulher ter algum, recomenda uma visita ao médico, afinal prevenção nunca é demais.

Cólica menstrual muito intensa

Em muitos casos, a cólica menstrual intensa é o primeiro sinal indicativo de endometriose. A doença é a presença de células que compõe a camada interna do útero (chamado de endométrio) fora do útero: nas trompas, nos ovários, na bexiga, no intestino. Quando a mulher menstrua, essa camada interna do útero descama, sangra e se exterioriza por via vaginal. Assim, nas mulheres com endometriose, durante o período de menstruação, existe um sangramento e uma inflamação também nestes outros órgãos, o que gera mais dor.

Às vezes, a cólica não tem motivo aparente, contudo não se deve imaginar que a cólica menstrual é um sintoma natural na vida da mulher. Por isso, sempre que sentir dor, procure o ginecologista e descreva o que sente para que as causas sejam identificadas e o melhor tratamento seja orientado.

Dor na relação sexual de profundidade

Como a endometriose pode afetar vários órgãos da região pélvica, o contato com a região inflamada provoca a dor. É sempre válido lembrar que a relação sexual deve ser prazerosa para a mulher. Se existe dor na profundidade, é porque algo não está bem.

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Infertilidade

A endometriose está entre as causas possíveis da dificuldade para engravidar. Muitas mulheres que apresentam infertilidade têm endometriose associada. Tal correlação pode ser explicada pela obstrução ou comprometimento das tubas uterinas pela endometriose, obstrução das tubas uterinas por aderências causadas pela endometriose, e pela inflamação crônica na pelve, que pode atrapalhar a implantação do embrião no útero. Vale ressaltar que, nos casos de endometriose, a fertilidade pode ser restabelecida com tratamento adequado.

Alterações e dor intestinal no período menstrual

Como o intestino encontra-se localizado na região pélvica, ele também pode ser comprometido pela endometriose. Com isso, no período menstrual, as lesões de endometriose no intestino provocam inflamação e por consequência dor intestinal, principalmente durante a evacuação. Dependendo da localização da endometriose no intestino, pode provocar cólicas intestinais de forte intensidade, dor ao evacuar no reto e até sangramento nas fezes. Em casos mais graves, pode causar dificuldades na evacuação e até obstrução do intestino.

Dor para urinar no período menstrual

Assim como o intestino, a bexiga também está localizada na região pélvica. E pode sofrer as mesmas alterações que ele, o que pode gerar dor para urinar durante a menstruação, assim como sangramento na urina. Em casos mais severos, a endometriose também pode comprometer os ureteres, que são as estruturas que transportam a urina dos rins para a bexiga, podendo até comprometer o funcionamentos dos rins.

Dor pélvica crônica

Como explicado acima, a endometriose pode atingir vários órgãos da pelve, ao longo de muitos anos. Com o passar do tempo a mulher com endometriose pode passar a sentir dor contínua, independente da menstruação. Esse tipo de dor é chamada de dor pélvica crônica e traz um grande impacto na qualidade de vida dessas mulheres.

Todas essas alterações podem influenciar a vida psicossocial da mulher, uma vez que a dor crônica pode impedi-la de cumprir com seus deveres profissionais e pessoais, além de atrapalhar nas relações sexuais. A boa notícia é que a maior parte dos casos tem tratamento e o controle adequado pode melhorar a qualidade de vida.

Fonte: Alira Clínica