Diagnóstico precoce, estilo de vida saudável e opções terapêuticas assertivas garantem mais qualidade de vida às pacientes
Para reduzir a incidência e a evolução de doenças que afetam a saúde feminina, é fundamental implementar ações preventivas, reforçar a importância do diagnóstico precoce e escolher o tratamento ideal para que as pacientes tenham mais qualidade vida e as chances de cura aumentem.
Veja três doenças comuns entre as mulheres e os respectivos diagnósticos e tratamentos.
Câncer de Mama
O câncer de mama é a neoplasia com maior incidência, exceto o câncer de pele não melanoma, entre as mulheres. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2022 o número de novos casos de câncer de mama representaram 30% do total de tumores malignos acometidos no público feminino.
Além do estilo de vida saudável, com dieta balanceada e atividade física, redução do consumo de álcool e reposição hormonal sem acompanhamento médico, os exames de rastreamento são fundamentais para a redução do agravamento da doença. Para Vivian Milani, médica radiologista da Fidi, especialista em saúde da mulher, além do autoexame, é muito importante que os exames periódicos sejam sempre realizados porque nem sempre o nódulo é o único sintoma do câncer de mama. “Existem alguns nódulos e calcificações não palpáveis que só podem ser detectados por meio da mamografia”, alerta.
O diagnóstico precoce vai contribuir para um tratamento mais assertivo e para aumentar as chances de cura. “O uso de biossimilares, em terapias conjugadas com quimioterapia, tem combatido, de forma bastante eficaz, o câncer de mama, bem como contribui para a ampliação do acesso a tratamentos oncológicos”, comenta Maria Cristina Figueroa Magalhães, oncologista parceira daBiomm, pioneira em biomedicamentos no país.
De acordo com a especialista, o tratamento com trastuzumabe apresentam resultados muito positivos para casos de câncer de mama em estágio inicial bem como metastáticos, independentemente da fase da doença. A terapia pode ser aplicada antes ou após a cirurgia e ser associada à quimioterapia, hormonioterapia ou a outro anticorpo.
Endometriose
Dados da Associação Brasileira de Endometriose apontam que de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) correm risco de desenvolver endometriose, apresentando 30% de chance de terem dificuldade de engravidar.
Esta doença é caracterizada pelo funcionamento anormal do organismo, fazendo com que as células do tecido que reveste o útero (endométrio), em vez de serem expulsas durante a menstruação, migrem para os ovários ou cavidade abdominal. Os sintomas mais comuns são cólica, dor pélvica crônica, dor na relação sexual, infertilidade e alteração nos tratos intestinal e urinário.
O diagnóstico é feito por meio de exames clínicos, laboratoriais e de imagem. “O ultrassom e a ressonância magnética são amplamente utilizados para confirmar a endometriose, já que permite a visualização das lesões”, esclarece Melissa Kuriki, diretora da área médica da Fujifilm.
O tratamento se baseia em analgésicos e anti-inflamatórios para amenizar os episódios de dor. Há casos que precisam de bloqueio hormonal ou intervenção cirúrgica.
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
A síndrome dos ovários policísticos é uma doença causada por disfunção hormonal e pode ocasionar irregularidade menstrual, aumento anormal dos níveis de hormônios masculinos no corpo da mulher (clinicamente conhecido como hiperandrogenismo), microcistos nos ovários e, em casos mais graves, infertilidade.
O diagnóstico é feito por meio de ultrassom transvaginal e exames laboratoriais para identificar a dosagem de hormônios. Embora não tenha cura, há tratamentos bastante eficazes para garantir a melhoria da qualidade de vida, como uso de medicamentos para controle da produção de hormônios masculinos, do ciclo menstrual e da fertilidade.
“A tecnologia tem permitido que os exames de imagem apresentem cada vez mais acurácia nos diagnósticos e o ultrassom transvaginal analisa com precisão a saúde dos ovários e do útero, permitindo que os médicos definam o melhor tratamento de acordo com os perfis das pacientes”, finaliza Melissa.
A endometriose se desenvolve quando o tecido da camada interna do útero, o endométrio, cresce em outros lugares, como ovário, trompas e órgãos pélvicos, fazendo com que a mulher tenha cólicas intensas e desconforto durante o período menstrual. Em casos mais graves pode ocasionar infertilidade, comprometimento intestinal e aumento do risco de câncer de ovário.
Segundo levantamento da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a endometriose afeta 6,5 milhões de mulheres no Brasil e 176 milhões no mundo. Como março é o mês de conscientização da endometriose, a cirurgiã ginecológica, médica assistente da Faculdade de Medicina da USP do Setor de Uroginecologia, Débora Oriá, esclarece algumas dúvidas sobre o tema.
Sintomas
A endometriose pode ser assintomática, e nesse caso só é descoberta por meio de exames. Quando apresenta sintomas, são: cólicas fortes, fluxo menstrual intenso, dor na hora da relação sexual e dor e sangramentos intestinais e urinários durante a menstruação. Se as fortes cólicas no período menstrual vierem acompanhadas desses sintomas, procure um médico.
Diagnóstico
O diagnóstico de endometriose é confirmado após a realização de exame físico, marcadores laboratoriais (CA125) e exames de imagem, como ressonância e ultrassom com preparo intestinal. A doença é classificada em leve, moderada ou grave.
Tratamento
Após a confirmação de endometriose, o médico irá avaliar o caso, o histórico de saúde da paciente e escolher o melhor tratamento. O uso de medicamentos com hormônios que bloqueiam o endométrio, como os anticoncepcionais orais, são formas de tratamento, já em muitos casos há necessidade de cirurgia. Fisioterapia e acupuntura podem ser indicadas para ajudar no controle da dor. A endometriose não tem cura, mas pode ser controlada!
Alimentação
Manter uma alimentação equilibrada é importante para a saúde e pode ajudar a evitar e aliviar os sintomas da endometriose. Inclua no cardápio alimentos ricos em ômega 3, como peixes e folhas verde-escuras, como couve, brócolis e espinafre. Eles atuam como anti-inflamatório, amenizando os focos de endometriose. Se alimente também de fibras, vitaminas B e C. Além de manter uma alimentação saudável, evite café, frituras, carne vermelha e alimentos processados.
Atividade física
A atividade física pode ajudar na prevenção e no tratamento da endometriose, pois libera endorfinas, que têm efeito vasodilatador e analgésico.
Lembre-se que o diagnóstico precoce e correto é fundamental. Visite seu ginecologista pelo menos uma vez ao ano, e ao sentir os primeiros sintomas da doença, procure um especialista.
Conheça três importantes exames para diagnosticar a endometriose
Ainda muito desconhecida por milhares de pessoas, a doença ganhou destaque nos noticiários de todo o Brasil após a cantora Anitta compartilhar seu diagnóstico de endometriose, em julho de 2022. Após a grande repercussão, o termo “endometriose Anitta” teve um aumento de mais de 4.000% nas buscas do Google, segundo informações do Google Trends.
“Embora a endometriose não apresente ainda causas claras, o histórico familiar, a menarca precoce e fluxos menstruais abundantes, de longa duração ou de maior frequência, são considerados fatores de risco para o seu desenvolvimento”, relata Marcos Tcherniakovsky, ginecologista e Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE).
Conheça a seguir os três exames mais importantes para o correto diagnóstico
-Exame físico: quando há suspeita da doença, o médico realiza um exame físico de toque vaginal, com o objetivo de verificar se o útero está fixo, se houve aumento dos ovários e possíveis alterações que confirmem a suspeita. Antes, o médico avalia a história clínica da paciente, ouvindo com cuidado todos os sintomas e queixas e sem pressa, também para tranquilizá-la. -Ressonância magnética da pelve: é solicitada com preparo intestinal e é feita por um profissional que conheça muito bem a doença. O exame possibilita uma avaliação completa da pelve em múltiplos planos, com excelente resolução anatômica e espacial. –Ultrassom endovaginal: também é solicitado com preparo intestinal e é feito por profissionais com alto conhecimento em endometriose. O exame consegue identificar a presença da doença em qualquer local da região da pélvica, como ovários, tubas, bexiga e intestino.
Esses exames são excelentes para diagnosticar a presença de endometriose profunda, aquela que tem mais de 5 mm de profundidade e costuma dar mais sintomas, como dores abdominais e/ou pélvicas.
Por meio deles podemos determinar a necessidade de trabalharmos de forma multidisciplinar. Quando existe o diagnóstico de endometriose intestinal, sempre solicitamos uma avaliação com o proctologista ou cirurgião geral. O mesmo ocorre quando temos um provável acometimento da bexiga e encaminhamos para o urologista, para que acompanhe em conjunto com o ginecologista.
“Uma dica fundamental para o início do tratamento é incentivar que a paciente busque algo que lhe traga relaxamento. Se necessário, o acompanhamento psicológico também é recomendado. Assim, ela terá suporte para lidar com toda a carga emocional que a endometriose gera na vida de uma mulher”, finaliza Tcherniakovsky.
Especialista em cirurgia por vídeo, Thiers Soares explica os principais sintomas e tratamentos para doença que já atingiu Tatá Werneck, Wanessa Camargo e Malu Mader
Segundo dados do Ministério da Saúde, uma a cada dez mulheres entre 25 a 35 anos no Brasil sofre de endometriose, doença inflamatória do sistema reprodutor feminino, que acontece quando o endométrio, tecido que reveste o útero por dentro, se implanta em vários locais na cavidade abdominal, como ovário, intestino e bexiga. Durante o mês de março, campanhas como o Março Amarelo, mês mundial de conscientização da endometriose, reforçam a importância sobre os cuidados com a saúde da mulher em relação à doença.
De acordo com Thiers Soares, especialista em cirurgia por vídeo e robótica, muitos casos demoram anos para serem diagnosticados. O atraso médio mundial é de oito anos entre as primeiras queixas e o diagnóstico definitivo. A identificação acontece, muitas vezes, a partir de exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve.
“A demora em diagnosticar os focos da doença pode levar ao estado mais grave do quadro, quando é necessário partir para uma intervenção cirúrgica”, explica o médico. Mesmo assim, é importante lembrar que a endometriose não tem cura. Ela é uma condição crônica, que deve ter acompanhamento constante.
No Brasil, 15% das mulheres, ou sete milhões, sofrem com a doença. Famosas como a apresentadora Tatá Werneck, a cantora Wanessa Camargo e a atriz Malu Mader já relataram sofrer com a condição e recorreram à cirurgia para aliviar as dores. Muitas mulheres manifestam o medo de não conseguirem engravidar devido a endometriose, mas o especialista em laparoscopia e robótica afirma que com o tratamento adequado para cada caso, é totalmente possível que a paciente tenha uma vida reprodutiva normal.
Principais sintomas
Entre os principais sintomas da endometriose estão as cólicas fortes – as quais podem impedir a mulher de praticar atividades comuns, como trabalho e exercícios físicos – e as dores abdominais frequentes, que podem também ocorrer fora do período menstrual. Além desses, também são comuns: =Sangramento menstrual desregulado e intenso; =Fadiga e cansaço; =Sangramento intestinal durante o período menstrual; =Dores fortes durante relações sexuais; =Dificuldade de engravidar;
Tratamentos avançados diminuem riscos e cicatrizes
Primeiramente é importante realizar um acompanhamento com o ginecologista para entender o grau da condição e como prosseguir com o tratamento. Muitas vezes, o uso do anticoncepcional para suspender a menstruação é adotado para reduzir as dores.
Mesmo assim, quando necessário intervenções cirúrgicas, a ciência já avançou bastante para garantir procedimentos mais simples, que causem menos impacto na rotina dos pacientes.
Em alguns casos, recomenda-se a videolaparoscopia, cirurgia para a retirada dos focos de endometriose espalhados pelos órgãos. “A maioria das pessoas não sabe, mas existem métodos minimamente invasivos para esse procedimento, como a videolaparoscopia e a cirurgia robótica”, explica o especialista. Essas técnicas têm um pós-operatório muito mais seguro, com menos tempo de internação, menos chance de infecção e trombose, retorno mais precoce às atividades diárias e ao trabalho, entre outras vantagens.
Com os avanços tecnológicos, atualmente, a robótica é a técnica mais moderna e chega como alternativa para diminuir a necessidade de procedimentos mais complexos. Diferente da videolaparoscopia, a modalidade traz a visão 3D para a rotina do cirurgião, com movimentos mais refinados e articulação dos instrumentos muito mais ampla em comparação com a videolaparoscopia. Apesar da facilidade, nem todos os profissionais estão aptos a trabalhar com o equipamento, sendo necessário uma habilitação especial.
Segundo o especialista, campanhas como o Março Amarelo ajudam no alerta para identificar a doença, onde “a informação é o primeiro passo para o diagnóstico precoce e, com isso, evitarmos o comprometimento da qualidade de vida das pessoas afetadas por essa doença tão enigmática”, afirma.
Fonte: Thiers Soaresé graduado em Medicina pela Faculdade de Teresópolis e Residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Instituto Fernandes Figueira – Fiocruz, RJ. Especialização em Endoscopia Ginecológica também peloFiocruz e Robótica pelo Memorial Hermann Institute, Houston, EUA. Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil) no Rio de Janeiro.
Mulheres possuem grande quantidade de receptores da substância nos órgãos reprodutivos
No Brasil, a endometriose acomete cerca de 15% das mulheres, ou seja, 6,5 milhões de brasileiras por ano. O tratamento da dor secundária da endometriose constitui um desafio histórico na prática clínica e muitos destes tratamentos são à base de hormônios, com uma série de efeitos colaterais.
Segundo artigo da Medical Cannabis Network, os órgãos pélvicos femininos possuem uma densidade muito alta de receptores canabinm0ides, fazendo com que o tratamento da endometriose com medicamentos à base de cannabis seja promissor, principalmente nos sintomas desse distúrbio. “Os receptores canabin0ides são locais onde as substâncias medicinais da planta se ligam e produzem seus efeitos medicamentosos”, explica Maria Teresa Jacob, médica que atende pacientes com a cannabis medicinal.
A Cannabis tem sido utilizada para tratar várias complicações ginecológicas e outras doenças em todo o mundo, pois restabelece o equilíbrio do organismo com menor incidência de efeitos colaterais. “A endometriose, patologia relativamente frequente entre mulheres na fase reprodutiva, compromete enormemente a qualidade de vida pela dor severa e por complicações genitourinárias. Estudos demonstram que a cannabis atua na melhora da dor, com recuperação da qualidade de vida e diminuição de complicações”, completa a médica, que também é especialista em dor crônica.
Os fitocanabinoides, substâncias presentes na cannabis, apresentam alívio para diversos incômodos que acometem as mulheres, sendo uma alternativa mais eficaz e menos invasiva. “Estudos anteriores sugerem que a cannabis tem a capacidade de mitigar problemas de sono, irritabilidade e dor nas articulações, portanto, pode desempenhar um papel significativo em alguns dos sintomas associados à tensão pré-menstrual”, apontam no artigo.
A utilização da cannabis como medicamento não é de hoje, inclusive era receitada pelo médico inglês Sir Reynolds para tratar as cólicas menstruais da rainha Vitória, no século 19. Reynolds foi responsável pela primeira publicação sobre o uso da planta para dor, seus efeitos terapêuticos e adversos na revista científica Lancet, em 1890. “Da mesma forma, observa-se melhora na tensão pré-menstrual, nas cólicas menstruais, nos sintomas indesejáveis da menopausa, nas dores pélvicas crônicas e no desempenho sexual”, finaliza Maria Teresa.
Fonte: Maria Teresa Jacob é formada pela Faculdade de Medicina de Jundiaí. Pós-graduanda em Endocannabinologia, Cannabis y Cannabinoides na Universidade de Rosário, Argentina. Residência médica em Anestesiologia no Instituto Penido Burnier e Centro Médico de Campinas. Especialista em Anestesiologia, Título de Especialista em Acupuntura e Título de Especialista em Dor. Especialização em Dor, na Clinique de la Toussaint em Strassbourgo, França, Cannabis Medicinal e Saúde, na Universidade do Colorado, Cannabis Medicinal. Membro da Society of Cannabis Clinicians (SCC), da International Association for Canabinoid Medicines (IACM), da Sociedade Internacional para Estudo da Dor (IASP), da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), da Sociedade Internacional de Dor Musculoesquelética (IMS) e da Sociedade Europeia de Dor (EFIC). Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinoide em diversas patologias na Bem – Centro de Saúde e Bem Estar, Campinas.
Projeto EndoConectadas trará conteúdo com curadoria especial de Caroline Salazar, ativista responsável pela EndoMarcha Time Brasil e autora do blog A Endometriose e Eu
O EndoConectadas será lançado no dia 3 de agosto, como o primeiro Clube de Assinaturas para mulheres portadoras de endometriose no Brasil. A ideia do projeto é de Caroline Salazar, ativista da endometriose, autora do blog pioneiro sobre o assunto, A Endometriose e Eu, e capitã da EndoMarcha Time Brasil (Marcha Mundial de Conscientização sobre a Endometriose).
“O EndoConectadas surgiu para informar e empoderar as mulheres com endometriose e auxiliá-las na busca por um tratamento completo e eficiente”, afirma Caroline, que compartilha sua história e fatos científicos sobre a endometriose desde 2010 com suas seguidoras.
As assinantes do EndoConectadas terão acesso a conteúdo exclusivo preparado por Caroline em vídeos semanais, que contarão com especialistas e serão separados em editorias, entre eles o EndoCiência – Descomplicando a Endometriose, Superando a EndoInfertilidade, Sendo Mãe de uma EndoMenina, Como Apoiar uma EndoMulher e Entrevistas ao Vivo – as lives especiais que contarão com a participação das assinantes.
Sobre Caroline Salazar e o blog A Endometriose e Eu
Caroline Salazar é jornalista, autora do blog A Endometriose e Eue ativista pela conscientização da endometriose. A partir da criação do blog, em 2010, Caroline se tornou referência no assunto entre pacientes, familiares de pacientes e especialistas sobre a doença em todo o mundo. O blog A Endometriose e Eu traz entrevistas e artigos exclusivos, com pesquisadores nacionais e internacionais sobre a doença.
Em 2014, Caroline Salazar capitaneou a primeira edição da EndoMarcha Brasil – a Marcha Mundial de Conscientização Sobre a Endometriose. O Brasil, desde então, lidera a marcha com o maior número de cidades participantes. Em 2019 foram 20 cidades participantes. A Marcha de 2020 foi adiada em decorrência da pandemia da Covid-19.
Caroline, a partir do blog, foi a pioneira no Brasil a abordar assuntos como a dispareunia (dor durante a relação sexual) e seu tratamento, além de disseminar no país o uso do termo Março Amarelo. Também colaborou com a criação do texto do PL 3047/19, apresentado pela deputada federal Daniela do Waguinho (RJ) e que prevê a instituição do dia 13 de março como o Dia Nacional de Luta Contra a Endometriose e a Semana Nacional de Luta Contra a Endometriose.
Obras abordam infertilidade feminina e masculina, endometriose, alimentação, fertilização in vitro, congelamento e doação de óvulos, entre outros temas
Muita gente está aproveitando o período de quarentena para ler mais. Se o livro for gratuito, melhor ainda. Pois o IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia) está relançando, em versão e-book e gratuita, todos os livros escritos pelo médico Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do instituto.
Há também os livros criados apenas em versão digital. São obras que têm somente o especialista como autor, ou foram escritas em parceria com outros médicos e profissionais ligados à área da saúde, como nutricionistas e psicólogos.
Os livros são voltados a casais, ou a mulheres e homens, que estão tendo dificuldades para engravidar, e também para ginecologistas e médicos que querem entender mais ou enveredar pela área da reprodução humana.
A maioria dos títulos fala sobre infertilidade, porém, há outros temas como endometriose, adenomiose, obesidade e alimentação. Além destes, há um voltado a crianças, explicando o processo de fertilização in vitro. O livro foi feito em formato de revista em quadrinhos.
Abaixo, todos os 20 títulos disponíveis atualmente, lembrando que novas obras podem ser acrescentadas à lista.
– Guia da Endometriose – Guia da Adenomiose – Doação e Recepção de Óvulos – Fertilidade e Alimentação – Gravidez na Sexualidade – A Fertilidade do Homem – Obesidade e Fertilidade
– Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões – Inflamações Crônicas “Silenciosas” que Perturbam a Fertilidade – Como Aumentar as Chances de Sucesso nos Tratamentos de Fertilização – Abortos Podem ser evitados – Congelamento de Óvulos – Fertilização in vitro, um Ato de Amor – Coito Programado e Inseminação Intrauterina – Biópsia Embrionária na FIV – Os Tratamentos de Fertilização em Casais Homoafetivos – Os Tratamentos de Fertilização Para Mulheres Maduras – Os Tratamentos de Fertilização Para Mulheres Más Respondedoras – Miomas Uterinos e a Infertilidade – Um Bebê e Duas Cegonhas (infantil e em formato de HQ)
Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área médica como Fertilidade Natural (Ed. LaVida Press), Grávida Feliz, Obstetra Feliz (LaVida Press), Fertilização um ato de amor (LaVida Press), Manual da Gestante (Ed. Madras) e Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões (Ed. LaVida Press).
O que é, sintomas, tratamentos, alimentação e novidades
Março é o Mês Mundial de Conscientização Sobre a Endometriose e é quando é realizada a campanha Março Amarelo. São ações para alertar para uma doença de saúde reprodutiva comum. Estimativas da World Endometriosis Research Foundation sugeriam, em 2018, que a endometriose afetaria cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo. No Brasil, ela atinge uma em cada dez mulheres.
Ela ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento uterino (o endométrio) cresce fora do útero. Vale lembrar que ela esta fortemente associada à infertilidade e que até 50% das mulheres que necessitam de tratamento para engravidar têm este problema.
Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia, com certificado de atuação na área de reprodução assistida, e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, explica o que é endometriose, os sintomas, tratamentos, cirurgias, medicamentos, novos estudos, dá dicas de alimentação e elucida dúvidas por meio de 18 mitos e verdades.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da endometriose são cólica, menstruação irregular, dor pélvica e infertilidade. O tratamento da endometriose profunda é sempre cirúrgico, feito por videolaparoscopia, é algo extremamente complexo e exige médicos qualificados e experientes neste tipo de intervenção. “Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença”, admite Cambiaghi.
Medicação
“Muitas pesquisas têm sido feitas no desenvolvimento de medicamentos que podem ser usados para aliviar os sintomas associados à endometriose. Além dos medicamentos já estabelecidos, o principal deles no momento, e que foi lançado na Europa em 2018, é o Elagolix, que promete ser a nova sensação nos tratamentos do distúrbio”, diz Cambiaghi, que acrescenta: “O diferencial deste fármaco em comparação aos outros da mesma categoria é que se trata de um antagonista da GnRH que pode ser administrado por via oral, diferente de outros como Zoladex (acetato de gosserrelina), Lectrum (acetato de leuprorrelina), Lupron (acetato de leuprorrelina) que são injetáveis”.
Melatonina ajuda a combater endometriose, além de melhorar a fertilidade
A melatonina é um hormônio produzido no sistema nervoso central pela glândula pineal, uma pequena glândula situada no cérebro que ajuda a controlar o ciclo natural de horas de sono e de vigília e, por isso, é conhecida como “o hormônio do sono”, regulando os ciclos circadianos (dormir-acordar). Sua produção é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Tem papel benéfico e recuperador na qualidade do sono.
Quantidades muito pequenas são encontradas em alimentos como carnes, grãos, frutas, legumes e até no vinho tinto. Uma vez sintetizada, a melatonina não é armazenada na glândula pineal, mas é logo liberada para a corrente sanguínea e outros fluidos corpóreos como bile, saliva, liquor, sêmen, líquido amniótico e fluido folicular. “Já é documentado que a melatonina é um excelente antioxidante natural. A partir dos 30, 40 anos poderá prevenir – ou pelo menos retardar – doenças relacionadas com o envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios”, afirma o médico.
Fertilidade
Foto: Veggiegretz/Morguefile
Nos eventos reprodutivos como a formação dos folículos ovulatórios (foliculogênese), atrofia dos folículos (atresia folicular), ovulação, maturação dos óvulos e formação do corpo lúteo, há envolvimento de radicais livres. Estudos têm demonstrado que a qualidade dos óvulos e dos embriões depende não só da formação genética e cromossômica, mas também do ambiente onde os óvulos se desenvolvem (fluido folicular que envolve os oócitos antes da ovulação). Assim, a melatonina, com sua ação antioxidante é essencial e tem papel benéfico no processo reprodutivo.
Grandes quantidades de melatonina são encontradas no fluido folicular periovulatório (líquido que envolve o óvulo dentro do folículo), com concentrações maiores do que no sangue periférico. O próprio ovário parece produzir melatonina (pelas células da granulosa), mas a maior parte é absorvida da circulação sanguínea. Quanto maior o folículo, maior a concentração de melatonina.
Além de sua ação antioxidante, a melatonina também regula a função ovariana através da regulação da liberação de gonadotrofinas no eixo hipotálamo hipofisário. Os hormônios sexuais têm um importante papel no crescimento e diferenciação de células ovarianas. A melatonina influencia na produção desses hormônios – progesterona, estradiol e androstenediona – em diferentes estágios da maturação folicular, podendo diminuir ou aumentar suas concentrações.
Durante o processo de ovulação, grande quantidade de radicais livres é produzida. Esse excesso induz à apoptose (morte celular programada), resultando na atresia folicular (atrofia dos folículos). Níveis aumentados de melatonina diminuem a quantidade de radicais livres prevenindo essa atresia.
O folículo é resgatado pela melatonina e continua seu desenvolvimento até se tornar um folículo dominante. O balanço entre radicais livres e antioxidantes tem papel importante na maturação do óvulo (oócito) e na fertilização. A ação antioxidante da melatonina melhora a qualidade do oócito. A melatonina estimula diretamente a liberação de progesterona pelo corpo lúteo e o protege da ação de radicais livres conferindo manutenção da função lútea.
A falta de melatonina está relacionada ainda com endometriose e com a Falência Ovariana Prematura (FOP). Em pacientes com SOP há diminuição de melatonina no fluido folicular. Em pacientes com infertilidade, o tratamento com melatonina melhora a qualidade do oócito além de melhorar as taxas de fertilização e reduzir os danos oxidativos no fluido folicular. Entretanto, o uso de melatonina para pacientes com SOP, FOP e endometriose é limitado.
Cirurgia
Estudo feito por médicos franceses do CHU (Centre Hospitalier Universitaire) Clemont Ferrand, em 2018, mostrou que a cirurgia de endometriose reduz não só a dor pélvica, como aquela sentida durante a relação sexual, além de melhorar a qualidade de vida das pacientes. Os pesquisadores avaliaram a dor sentida por mulheres com endometriose antes e depois da cirurgia laparoscópica. Além disso, analisaram as respostas que as pacientes deram em um questionário sobre qualidade de vida.
O resultado médio para dor caiu de 5,3, antes da cirurgia, para 2,6, seis meses após a intervenção, e para 2,3, três anos após a operação. A dor pélvica crônica caiu de 2,6 antes da intervenção para 1,4 após seis meses da cirurgia, e para 1,3 três anos após a operação. Já a dor durante a relação sexual caiu de 2,7 para apenas 1,1, seis meses após o procedimento.
Número que permaneceu praticamente o mesmo três anos após a cirurgia: 1,2. Os resultados foram animadores também para a qualidade de vida das mulheres no aspecto dor corporal. A melhora foi de 54,6 para 74,4, seis meses após a cirurgia. Já a melhora nas limitações físicas que a endometriose causava saltou de 63,3 para 81,9, seis meses após a cirurgia.
O mesmo ocorreu no quesito qualidade de vida, que aumentou de 66 para 75,6 seis meses após o procedimento. A melhoria nas limitações, devido a problemas emocionais, aumentou de 65,7 para 77,4 após o procedimento. E o mais importante: os resultados não mudaram ao longo dos anos.
“A cirurgia exige do médico consultante um conhecimento abrangente do problema, pois pode atingir vários órgãos. Conhecida por alguns como uma ‘doença sem cura’, pois mesmo tratada pode reaparecer, a endometriose tem esta fama por receber de alguns profissionais um acompanhamento inadequado e insuficiente, principalmente nos casos de endometriose ovariana e endometriose infiltrativa profunda. Nesses casos é fundamental o acompanhamento de profissionais especializados em infertilidade e que tenham experiência em cirurgia pélvica para uma resolução satisfatória”, frisa Cambiaghi.
Estudo
Um estudo colaborativo entre pesquisadores da Universidade de Southampton e do Centro de Fertilidade Completa do Hospital Princesa Anne, publicado no Scientific Reports*, em 2016, verificou que a qualidade do óvulo fica severamente comprometida em mulheres que têm endometriose. A descoberta foi que o fluído dos folículos de pacientes com endometriose bloqueia a maturação do óvulo gerando radicais livres chamados de Reactive Oxygen Species – ROS (espécies reativas de oxigênio. em tradução livre) e danificam o DNA.
Este dano faz com que o óvulo não amadureça e, assim, não possa ser fertilizado. Porém, mais pesquisas são necessárias para investigar se o problema é tratável ou evitável. O estudo utilizou óvulos imaturos de fêmeas de ratos que foram incubados em fluído folicular de mulheres com endometriose, in vitro. Os pesquisadores examinaram as quantidades de ROS que foram geradas e a capacidade do óvulo de amadurecer. Descobriram que o fluído folicular de mulheres com endometriose resultou em maiores quantidades de ROS.
Para os cientistas é encorajador ver a possibilidade de os danos serem prevenidos por antioxidantes, mas mais pesquisas são necessárias antes que possam por em pratica os resultados. Cambiaghi afirma que a pesquisa apenas corrobora o que já se desconfiava há anos: “Esse estudo reforça a interferência da endometriose na fertilidade feminina e confirma que os radicais livres também têm importância comprovada na infertilidade. Entretanto, não podemos esquecer que tratamos a endometriose utilizando a videolaparoscopia e temos conseguido resultados excelentes. Por isso, ela é considerada uma ótima estratégia para o tratamento”.
Tratamento não hormonal
Ilustracao Giemsa Stain
Cientistas descobriram que certo tipo de célula imunológica pode ser uma das principais causas de dor pélvica em mulheres com endometriose. Os crescimentos anormais, ou lesões, da endometriose podem causar inflamação persistente, dor e infertilidade. Outros sintomas incluem menstruação dolorosa, fadiga, sangramento intenso e dor durante a relação sexual. Até agora não há cura para a endometriose. A cirurgia pode remover algumas lesões e tecido cicatricial.
Tratamentos hormonais podem oferecer alívio dos sintomas, mas, muitas vezes, trazem efeitos colaterais após o uso prolongado. Desse modo, há necessidade de drogas não hormonais. Nesse estudo, de 2019, pesquisadores das Universidades de Warwick e Edimburgo, ambas no Reino Unido, descobriram que a causa da dor da endometriose é um tipo de glóbulo branco, chamado macrófago, que sofreu mudanças como resultado da doença. A equipe relata as descobertas em um artigo do Faseb Journal**.
“Os macrófagos podem ser considerados células de limpeza do corpo, e são muito importantes para o sistema imunológico. Eles alertam sobre a presença de agentes estranhos”, afirma Cambiaghi. Ele explica que os tratamentos convencionais que usam hormônios “não são ideais” porque têm como alvo a função ovariana, e podem desencadear efeitos colaterais, como a supressão da fertilidade.
Um conjunto final de testes revelou que impedir a atividade do hormônio, bloqueando o receptor da célula para o IGF-1, “reverte o comportamento da dor observado em camundongos com endometriose”. O fato de sinais no ambiente tecidual local poderem alterar a função dos macrófagos não é novo. No entanto, essas descobertas lançam uma nova luz sobre o que acontece com os macrófagos no caso específico da endometriose. “Este novo estudo traz luz a uma doença complexa, como é a endometriose. E toda novidade positiva tem de ser comemorada. Esta descoberta pode mostrar novas formas de aliviar os sintomas das que vivem com a doença”, enfatiza Cambiaghi.
Alimentação correta pode diminuir os sintomas
Muito se tem insistido na importância de uma alimentação correta para praticamente tudo na vida. Com a fertilidade não é diferente. Mesmo pessoas que tenham alguma doença também podem contribuir para a diminuição dos sintomas seguindo uma dieta saudável.
É o caso de um dos males que mais afeta a fertilidade feminina: a endometriose, doença enigmática que vem crescendo pelo mundo. Estima-se que de 10% a 14% das mulheres em sua fase reprodutiva (19 a 44 anos) e de 25% a 50% das inférteis sejam acometidas por este mal. Muitas mulheres chegam a sentir tanta dor que se veem impossibilitadas de viver uma vida normal e até mesmo a faltar no trabalho.
Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença. Assim, estudos diversos relacionam a melhora das dores com algumas intervenções nutricionais pontuais, como aumento do consumo de fibras, substituição de gorduras de animais por óleos de boa qualidade e consumo adequado de vitaminas antioxidantes como A, C, E e complexo B.
São boas fontes de vitamina A: damascos, pêssegos, melão cantalupo e vegetais verde-escuros e amarelo-escuros.
Das vitaminas A e C: abóbora, tomate, manga, mamão papaia e couve.
Da vitamina E: frutas cítricas, morangos, pimentas, repolho, batata-doce e brócolis.
Já as vitaminas do complexo B são encontradas em ovos e laticínios (prefira orgânicos), leguminosas e alimentos integrais.
Há também aqueles alimentos que podem agravar a dor como os industrializados, produzidos com excesso de gordura hidrogenada, farinha e açúcar refinado. Os de origem animal são a maior fonte de substancias hormonalmente ativas, pois o tecido gorduroso e produtos à base de gordura animal são grandes retentores de xenoestrogênio, bem como antibióticos, drogas veterinárias e hormônios para estimulo do crescimento. Assim, o ideal é evitar embutidos, carnes vermelhas, leite e derivados não-orgânicos, além de gorduras saturadas.
Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
A endometriose é uma doença de saúde reprodutiva comum, que ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento uterino (o endométrio) cresce fora do útero. Porém, como muitas outras, ela é cercada de muitos mitos e crenças. O médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, comenta 18 mitos muito comuns sobre a doença. Confira:
Foto: Is-Med.com
1 – É fácil diagnosticar a endometriose Mito: não é fácil diagnosticar a endometriose. É comum que demore até cerca de 8 anos, essa é a média esperada para o diagnóstico da endometriose. Essa é uma das primeiras dificuldades na vida reprodutiva da mulher: o diagnóstico não ser feito precocemente. Uma mulher que chega ao consultório de um ginecologista reclamando de cólica, menstruação irregular e infertilidade, as chances de ter endometriose são muito altas. Se ela acrescentar cólicas muito fortes, abdômen inchado, dor ao evacuar, dor para urinar e dor durante a relação sexual, essa paciente deve ter endometriose profunda. Se o médico estiver atento, o diagnóstico não será difícil, pois a endometriose será uma possibilidade bastante provável.
2 – É normal que os períodos da menstruação sejam extremamente dolorosos Verdade: mulheres com endometriose se referem a cólicas fortes durante a menstruação. Portanto, se uma mulher estiver sentindo uma dor severa e que não encontra alívio com medicação, a endometriose pode, sim, ser a causa do problema. O melhor é marcar uma consulta com o ginecologista.
3 – Os sintomas estão sempre presentes em mulheres com endometriose Mito: nem sempre, algumas mulheres não sentem dor alguma, elas só vão perceber que têm endometriose quando forem ao ginecologista e ele pedir um exame de ultrassom de rotina.
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4 – Terapias complementares não têm lugar no tratamento da endometriose Mito: são sempre alternativas possíveis. Porém, o tratamento da endometriose é basicamente cirúrgico, por vídeolaparoscopia, no qual se ressecam as lesões endometrióticas. Podem ser complementos, além dos medicamentos convencionais, terapias como acupuntura, naturopatia e ioga. Porém, sem o tratamento cirúrgico não haverá resultado.
5 – Mulheres com endometriose não podem ter filhos Mito: cerca de 30% das mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar. Quando se realiza uma pesquisa correta, por meio de exames complementares, como ultrassom e ressonância magnética, é possível diagnosticar em detalhes a doença e, em seguida, realizar a cirurgia ressecando esses focos de endometriose. Após esse tratamento, a mulher pode engravidar, mas é importante que não se esqueça de avaliar também outros problemas de infertilidade, como obstrução tubária, trombofilias, fator ovulatório e fator masculino. Muitas vezes se foca tanto na endometriose que se esquece de verificar a fertilidade do homem.
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6 – Gravidez cura endometriose Mito: este é um dos maiores mitos sobre o problema. Gravidez não cura endometriose. Pode amenizar os sintomas, mas a melhora só é possível com a realização da cirurgia e, mesmo assim, não há garantia de cura da doença. Isso porque os sintomas podem ser amenizados, mas se for algo provisório, a doença pode voltar com o tempo.
7 – Histerectomia cura endometriose Mito: a endometriose é um tecido endometrial fora do útero. A remoção do útero e/ou dos ovários, sem remover os importantes focos de endometriose não levará à cura. Portanto, histerectomia não cura endometriose, e é um erro gravíssimo acreditar que tirar o útero será a solução para a doença.
8 – Mulheres com endometriose devem evitar exercícios físicos Mito: pelo contrário, o exercício físico ajuda a melhorar a vascularização e a circulação sanguínea, isso pode amenizar o mal-estar e as cólicas. Mulheres com endometriose devem, sim, realizar exercícios físicos. Além disso, podem tomar outras atitudes como manter uma dieta alimentar adequada.
9 – Adolescentes não têm endometriose Mito: muito pelo contrário. Muitas já têm sintomas de endometriose no início da adolescência e é fundamental que se faça um diagnóstico precoce para se evitar as complicações futuras, como a infertilidade e o comprometimento de outros órgãos. Isso porque, em casos de endometriose mais avançada, é necessário fazer cirurgias muito mais agressivas. O diagnóstico precoce da endometriose é fundamental e não deve ser descartado porque a paciente é adolescente.
10 – Mulheres com endometriose sofrem dor somente durante o período menstrual. Mito: a dor pode ser intermitente ou contínua. Ela é mais frequente nos períodos menstrual e pré-menstrual. Às vezes, pode ocorrer durante ou após a atividade sexual, o que é mais comum quando houver um comprometimento do intestino ou bexiga, ou regiões próximas ao fundo da vagina.
11 – Endometriose é mais comum entre mulheres caucasianas na faixa dos 20 e 40 anos. Mito: até meados do século 20, pensava-se que o problema existia apenas em mulheres brancas. Isso acabou sendo resultado da falta de cuidados médicos contínuos para muitas mulheres afrodescendentes. Hoje, inclusive, se entende que qualquer mulher, de qualquer etnia, adolescente ou mais velha, pode ter endometriose.
12 – A endometriose não tem cura Verdade: infelizmente, não há cura. Quando a endometriose é diagnosticada criteriosamente e existe o mapeamento da doença por meio de exames complementares, como ressonância magnética e ultrassom, e um bom exame ginecológico, pode se realizar uma cirurgia bem detalhada para que se ressequem todos os focos da endometriose. Mulheres que passaram por uma cirurgia bem indicada e pelas mãos de profissionais qualificados, alcançam uma cura provisória por muitos anos. E pode ser até que nunca mais tenham endometriose, mas não de pode descartar que existe chance de a doença voltar.
13 – A endometriose afeta apenas os órgãos pélvicos. Mito: embora a endometriose encontra-se principalmente na região pélvica, pode ser descoberta em outros órgãos, como diafragma, pulmão, parede abdominal, estômago e até mesmo nos olhos.
14 – Qualquer ginecologista pode efetivamente tratar a endometriose. Parcialmente verdade: os ginecologistas, de um modo geral, estão preparados para o diagnóstico e para o tratamento, desde que estejam atentos aos sintomas e saibam mapear a doença. Porém, o tratamento cirúrgico, feito por laparoscopia, deve ser realizado por profissionais qualificados que tenham experiência em laparoscopia e em cirurgia pélvica. Encontrar um especialista em endometriose pode ser fundamental para o sucesso do tratamento.
15 – A endometriose sempre piora. Parcialmente verdade: para algumas mulheres, sim, pode piorar. Isso porque muitas vezes a endometriose se comporta como uma doença benigna, progressiva e invasiva. Ou seja, ela vai invadindo os órgãos com o passar do tempo. Por isso o diagnóstico precoce é fundamental.
16 – Menopausa cura a endometriose. Mito: a diminuição dos níveis hormonais pode amenizar a endometriose, porém, os focos vão permanecer. No caso de uma reposição hormonal, comum na menopausa, esses focos poderão retroceder a endometriose, abrandar a dor, diminuir o inchaço, amenizando os sintomas, mas não cura a doença.
17 – É comum confundir a endometriose com a síndrome do intestino irritável (SII) Verdade: isso pode acontecer em uma fase inicial, pois os sintomas intestinais podem ser confundidos. Faz parte do diagnóstico diferencial verificar se a dor pélvica é uma endometriose, um problema intestinal ou até mesmo um problema urinário. Entretanto, com os exames complementares de ultrassom e ressonância magnética, é possível diferenciar uma da outra.
18 – A endometriose pode ser prevenida Mito: não existe uma maneira de se prevenir. Porém, ter bons hábitos, boa alimentação e rigor no estilo de vida pode amenizar sintomas ou diminuir a chance dela surgir.
Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
Muitas pesquisas têm sido feitas no desenvolvimento de medicamentos que podem ser usados para aliviar os sintomas associados à endometriose. Além dos medicamentos já estabelecidos, o principal deles no momento, e que foi recentemente lançado na Europa, é o Elagolix, que promete ser a nova sensação nos tratamentos do distúrbio.
Essa novidade foi apresentada durante o 4º Congresso da SEUD – Society of Endometriosis and Uterine Disorders (Sociedade de Endometriose e Desordens Uterinas), realizado em abril último, em Florença, na Itália. “O diferencial deste fármaco em comparação aos outros da mesma categoria é que se trata de um antagonista da GnRH que pode ser administrado por via oral, diferente de outros como Zoladex (acetato de gosserrelina), Lectrum (acetato de leuprorrelina), Lupron (acetato de leuprorrelina) que são injetáveis”, comenta o especialista em Medicina Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
A endometriose é uma condição inflamatória crônica, dependente de estrogênio, caracterizada pela implantação de tecido semelhante ao endométrio fora do útero e que afeta de 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva. Os sintomas incluem dismenorreia (cólica menstrual), dor pélvica não-menstrual e dispareunia (dor na realção sexual), bem como os sintomas menos comuns, como dor na ovulação e ao urinar e constipação.
A dor associada à endometriose pode diminuir a qualidade de vida da paciente e resultar em uma carga econômica substancial. A dispareunia pode ter profundo impacto interpessoal e consequências psicológicas. A endometriose tem causas multifatoriais, incluindo menstruação retrógrada, fatores genéticos e ambientais, alteração do sistema imune e diferenciação ectópica (fora do útero) de células-tronco mesenquimais.
O estrogênio tem um papel necessário na fisiopatologia da endometriose, uma vez que promove o implante de endométrio no peritônio (tecido que reveste internamente o abdômen), traz efeitos proliferativos e antiapoptóticos (apoptose é a morte celular) nas células endometriais e estimula a inflamação local e sistêmica.
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Com base na “hipótese da importância do estrogênio”, a supressão completa do estrogênio pode não ser necessária para controlar a dor associada à endometriose, e o estrogênio pode ser ajustado a um nível adequado para controlar a dor, mas minimizar os efeitos hipoestrogênicos.
“Embora o tratamento cirúrgico por videolaparoscopia cirúrgica seja o “padrão ouro” para a resolução “definitiva” deste distúrbio, nem sempre a intervenção pode ser indicada, principalmente nas pacientes que são jovens e ainda não têm filhos. A indicação cirúrgica deve ser sempre ponderada quanto aos seus prós e contras”, alerta Cambiaghi.
As terapias de primeira linha para dor relacionada à endometriose incluem drogas antiinflamatórias não-esteroidais (AINEs) e contraceptivos orais contendo progesterona. As terapias de segunda linha envolvem formulações de depósito injetável de agonistas do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH), como o acetato de leuprolide. Os agentes são eficazes e reduzem os níveis de estrogênio para níveis pós-menopausa e estão associados a efeitos colaterais (por exemplo, perda óssea progressiva e sintomas vasomotores graves – ondas de calor), que limitam seu uso a seis meses.
As opções médicas permanecem limitadas. As progesteronas, muitas vezes estão associadas a sangramento, ganho de peso e alterações de humor. Agentes androgênicos, como o danazol, estão associados à acne, hirsutismo e alterações no perfil lipídico. A ablação cirúrgica ou a excisão das lesões podem seja eficazes.
“O Elagolix é um antagonista oral e os estudos mostraram eficácia no controle tanto da dismenorreia quanto da dor pélvica não menstrual, com um perfil de segurança aceitável em uma dose (uma vez ao dia de 150 mg) que produza supressão parcial do estrogênio. O Elagolix (na dose de 200 mg duas vezes ao dia) levou à supressão quase completa do estrogênio”, finaliza o médico.
Outros medicamentos na fase final de pesquisa:
·Relugolix: um antagonista seletivo não peptídico, atualmente está em fase III de ensaios clínicos para o tratamento da endometriose, do leiomioma uterino e do câncer de próstata. ·Linzagolix: é um antagonista de hormônio liberador de gonadotropina de pequena molécula, não peptídico, ativo oralmente (antagonista de GnRH) que está em desenvolvimento para o tratamento de útero leiomioma e endometriose. ·SKI 26 O70: antagonista do hormônio libertador de gonadotropina (GNRH), é um novo antagonista de GnRH não peptídico, ativo por via oral ainda nos estudos iniciais .Vilaprisan (codinome de desenvolvimento BAY-1002670): é um modulador esteroidal seletivo de receptor de progesterona sintético (SPRM) que está em desenvolvimento para o tratamento de endometriose e miomas uterinos.
Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros
Pessoas que têm síndrome do intestino irritável (SII) tendem a ter outras condições. Os médicos não sabem por que isso acontece, mas, na maioria das vezes, há coisas que você pode fazer para aliviar seus sintomas, seja qual for a causa.
Veja o que você precisa saber sobre essas doenças relacionadas e o que você pode fazer para se sentir melhor.
Problemas para digerir leite: uma em cada três pessoas com SII não se sente bem depois de ingerir produtos lácteos, a chamada intolerância à lactose. Eles podem ter diarreia, inchaço e gases. Pode ser que esses alimentos irritem os já sensíveis intestinos das pessoas com SII. Se você não se sentir bem entre 30 minutos e 2 horas depois de consumir leite, queijo ou iogurte, converse com seu médico. Ele pode pedir exames para ver como seu corpo lida com a lactose, o açúcar nos alimentos lácteos. Você pode precisar reduzir os produtos lácteos, mas também pode tentar tomar comprimidos ou gotas de lactase para ajudá-lo a digeri-los.
Problemas com articulações, músculos e ossos: duas em cada três pessoas com SII também têm condições que afetam essas partes do corpo, chamadas doenças reumáticas. Os sintomas podem variar, mas você pode ter erupções cutâneas, dores musculares e dores de cabeça. Dependendo do problema que você está enfrentando, diferentes tipos de tratamentos podem ajudar. Converse com seu médico ou consulte um reumatologista para descobrir o que pode ajudá-lo mais.
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Fibromialgia: até 60% das pessoas com a síndrome têm esse distúrbio, que causa dor duradoura, rigidez muscular e manchas sensíveis ao redor do corpo. As pessoas também se sentem muito cansadas e têm dificuldade em dormir. Os médicos suspeitam que SII e fibromialgia têm uma causa comum, mas não sabem o que é ainda. Para ajudá-lo a se sentir melhor, seu médico pode prescrever medicamentos para dor, antidepressivos ou auxiliares de sono. Exercícios leves e moderados, alongamentos e massagens também podem ajudar.
Excesso de bactérias intestinais: bactérias fazem trabalhos importantes em nossos intestinos, como ajudar a digerir nossa comida e nos manter saudáveis. Mas as pessoas com SII são mais propensas a ter muitos desses germes, uma condição chamada supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SCBID). Pode causar diarreia que não melhora, perda de peso e falta de vitaminas no corpo. O seu médico pode fazer alguns testes para verificar se a SCBID é a causa dos seus sintomas. Se for, os antibióticos podem matar as bactérias extras no seu intestino.
Síndrome da fadiga crônica (SFC): essa condição é exatamente o que parece, uma sensação de exaustão que não melhora com o descanso. As pessoas que a têm geralmente estão muito cansadas para realizar tarefas simples e cotidianas. Alguns pesquisadores acham que a inflamação no cérebro e no intestino, ou problemas com as bactérias no intestino, podem impulsionar o SFC e a SII, o que poderia explicar por que às vezes as duas acontecem juntas. O tratamento varia dependendo dos seus sintomas. Você pode precisar de ajuda para dormir melhor, como manter bons hábitos ou tomar medicação. Se a dor é um problema, medicamentos, relaxamento, massagem e outras técnicas podem ajudar. Você também pode conversar com seu médico sobre tratamentos para depressão, ansiedade ou problemas de memória.
Endometriose: esse problema doloroso acontece quando o tecido que normalmente reveste o útero cresce fora dele. As mulheres que têm este problemas são mais propensos a ter sintomas de SII, como dor de barriga, constipação e inchaço. A inflamação pode estar na raiz de ambas as condições, embora os cientistas não tenham certeza se é por isso que elas acontecem juntas. Os médicos podem prescrever medicamentos para aliviar a dor e ajudar na fertilidade se você quiser ter filhos.
Doença celíaca: a pesquisa sugere que uma em cada cinco pessoas com essa condição, na qual o corpo não consegue digerir uma proteína em trigo chamada glúten, também tem SII. A inflamação intestinal que adquirem quando comem alimentos como macarrão, pão e cerveja pode torná-las mais propensos a ter a síndrome. Os sintomas geralmente desaparecem quando você para de comer alimentos que contêm glúten.
Ansiedade e depressão: alguns médicos acham que o estresse de lidar com os sintomas da SII pode ser difícil para sua saúde mental. Ou pode ser que suas emoções afetem os hormônios e os nervos podem afetar a atividade do seu intestino. Não está claro qual é o link, mas, para muitas pessoas, a síndrome anda de mãos dadas com depressão e ansiedade. O que você pode fazer sobre isso? Seu médico pode conversar com você sobre tomar antidepressivos ou medicamentos ansiolíticos. Mas você também pode encontrar alívio ao conversar com um terapeuta sobre como está se sentindo e aprender a substituir pensamentos negativos por positivos.
Referência Médica WebMD Analisado por Minesh Khatri, MD em 10 de setembro de 2017