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Feliz 2022!

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

beija flor

Mário Quintana

Arvorezinha

little tree

little silent Christmas tree
you are so little
you are more like a flower

who found you in the green forest
and were you very sorry to come away?
see i will comfort you
because you smell so sweetly

i will kiss your cool bark
and hug you safe and tight
just as your mother would,
only don’t be afraid

look the spangles
that sleep all the year in a dark box
dreaming of being taken out and allowed to shine,
the balls the chains red and gold the fluffy threads,

put up your little arms
and i’ll give them all to you to hold
every finger shall have its ring
and there won’t be a single place dark or unhappy

then when you’re quite dressed
you’ll stand in the window for everyone to see
and how they’ll stare!
oh but you’ll be very proud

and my little sister and i will take hands
and looking up at our beautiful tree
we’ll dance and sing
“Noel Noel”

NATAL GATINHO ARVORE

arvorezinha

arvorezinha quietinha de natal
você é tão pequenina
mais parece uma flor

quem te achou na mata verde
e você ficou tristinha por que te levaram?
olha vou te consolar
porque seu cheiro é tão gostoso

vou beijar sua casca fresca
e te abraçar bem apertado
que nem sua mãe faria
é só não ter medo

olha os enfeites
que dormem o ano todo numa caixa escura
sonhando sair de lá pra que possam brilhar
as bolas o colar vermelho e dourado e os fios macios

levanta seus bracinhos
que eu vou te dar todos pra segurar
cada dedo com seu anel
e não vai sobrar nenhum lugar triste ou escuro

aí, você bem vestida,
vai ficar na janela pra todo mundo ver
e como vão olhar!
e você vai ficar muito orgulhosa

e minha irmãzinha e eu vamos dar as mãos
e olhar nossa árvore linda
vamos cantar e dançar
“Noel Noel”

e. e. cummings

Dia das Mães: cookies Mr. Cheney vem com poema criado especialmente para elas

O Dia das Mães está chegando e para celebrar a data, o Mr. Cheney promete um dia gostoso e único para aquela que sempre nos cuidou. A cookie store preparou um presente especial: uma caixa Mr. Cheney personalizada com uma fita especial e tag para presente recheada de amor em forma de cookies tipicamente americanos.

A caixinha vem com quatro unidades de Cookies Bomb de massa tradicional ou duplo com recheios irresistíveis de creme de avelã com chocolate, ninho ou doce de leite, que prometem surpreender e agradar o paladar de mães e filhos.

Além disso, a marca criou um poema original em homenagem ao Dia das Mães para acompanhar o presente. “Está no DNA do Mr. Cheney proporcionar momentos de celebração e para que o presente do Dia das Mães deste ano seja ainda mais especial, desenvolvemos um poema que traduz o sentimento do que é ser mãe”, diz Elida Paiva, uma das fundadoras do Mr. Cheney e responsável pelas receitas.

E para mães e filhos que estão distantes, a novidade está disponível para compra no aplicativo de entrega próprio do Mr. Cheney e de parceiros, além do Mr. Cheney Delivery por meio do site.

Para Elida, é importante que a data seja comemorada principalmente em tempos de distanciamento social. “Neste momento que o delivery é essencial queremos estar disponíveis para atender e transmitir amor e gratidão àquela que sempre nos cuidou, através dos nossos produtos que são preparados artesanalmente”, diz.

Os tradicionais cookies Mr. Cheney são feitos com ingredientes selecionados, levam pedaços de puro chocolate, não possuem conservantes e carregam a famosa característica de macio por dentro e crocante por fora.

Sobre o produto para presente:

Caixa com fita personalizada, TAG para presente com poema em homenagem às mães com quatro unidades de Cookie Bomb disponíveis em massa tradicional ou duplo com recheio de creme de avelã com chocolate, ninho ou doce de leite. O preço varia de R$ 49,00 a R$ 59,00 dependendo da plataforma de compra.

Informações: Mr. Cheney

Dia da Consciência Negra

Vozes-mulheres

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.

Reprodução Facebbok

Conceição Evaristo – Poemas da recordação e outros movimentos (2008)

Finados

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

Henry Scott Holland

“Ser criança”*

“Ser criança é dureza-
Todo mundo manda em mim-
Se pergunto o motivo,
Me respondem “porque sim”.

Isso é falta de respeito,
“Porque sim” não é resposta,
Atitude autoritária
Coisa que ninguém gosta!

Adulto deve explicar
Pra criança compreender
Esses “podes” e “não podes”,
Pra aceitar sem se ofender!

Criança exige carinho,
E sim! Consideração!
Criança é gente, é pessoa,
Não bicho de estimação!”

Ilustração: clker-free pixabay

*Tatiana Belinky

Feliz Dia das Mães

DE MÃE

O cuidado de minha poesia
aprendi foi de mãe,
mulher de pôr reparo nas coisas,
e de assuntar a vida.

A brandura de minha fala
na violência de meus ditos
ganhei de mãe,
mulher prenhe de dizeres,
fecundados na boca do mundo.

Foi de mãe todo o meu tesouro
veio dela todo o meu ganho
mulher sapiência, yabá,
do fogo tirava água
do pranto criava consolo.

Foi de mãe esse meio riso
dado para esconder
alegria inteira
e essa fé desconfiada,
pois, quando se anda descalço
cada dedo olha a estrada.

Foi mãe que me descegou
para os cantos milagreiros da vida
apontando-me o fogo disfarçado
em cinzas e a agulha do
tempo movendo no palheiro.

Foi mãe que me fez sentir
as flores amassadas
debaixo das pedras
os corpos vazios
rente às calçadas
e me ensinou,
insisto, foi ela
a fazer da palavra
artifício
arte e ofício
do meu canto
da minha fala.

gata dormindo com filhotes
– Conceição Evaristo, em “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

Primavera Editorial lança obras da poetisa Florbela Espanca

As obras da poetisa portuguesa Florbela Espanca serão lançadas no Brasil, em versão digital, pela Primavera Editorial. Com edições bimestrais, o primeiro e-book da coleção Bela Flor será Poemas Selecionados, já disponível para os leitores. Com um design que ressalta o caráter erótico, cult e desconstruído da escritora, os livros terão prefácio de Larissa Caldin, publisher da Primavera Editorial.

Com arrebatamento e linguagem telúrica, a poetisa portuguesa Florbela Espanca construiu uma obra com forte teor confessional: densa, amarga e triste. A expressão poética – via contos, poemas, cartas e sonetos – é marcada por sentimentos como amor, saudade, sofrimento, solidão e morte, mas sempre em busca da felicidade.

Com o intuito de disseminar a história e obra de uma escritora excepcional, a Primavera Editorial decidiu lançar a coleção Bela Flor, uma homenagem à poetisa. A partir deste mês, a editora lançará bimestralmente um e-book com a obra da autora, iniciando com Poemas Selecionados.

1Capa-Florbela

Florbela Espanca é uma poetisa que já tem poema no próprio nome. Embora ofuscada muitas vezes pela figura de poetas como Fernando Pessoa, foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa. Segundo Larissa Caldin, publisher da Primavera Editorial e autora do prefácio, um dos primeiros poemas de Florbela foi escrito aos sete anos, e ela o intitulou de A vida e a morte.

“Florbela sempre teve uma necessidade de colocar para fora os seus sentimentos, o que torna a obra dela tão pessoal e biográfica. Com essa história de vida, ela nunca precisou levantar bandeiras, porque a própria existência em si já era a personificação da emancipação feminina na época. É impossível passar incólume à obra dela, que cozinha amor, erotismo e devoção – devoção esta muitas vezes submetidas ao amor por um homem, sim, mas sempre consciente em ser uma escolha, não uma imposição”, diz Larissa.

Sobre Florbela Espanca

1FlorbelaEspanca

Nascida em 8 de dezembro de 1894, na região do Alentejo, Florbela Espanca – cujo nome de batismo era Flor Bela Lobo – é fruto de uma relação extraconjugal entre João Espanca e Antônia da Conceição Lobo, que a registrou como “filha de um pai incógnito”. Com a morte prematura da mãe, passou a ser criada pelo pai e a esposa, Mariana do Carmo Toscano.

O reconhecimento como filha legítima só veio após a morte da madrasta. Com 18 anos, Florbela iniciou o ensino secundário, sendo uma das primeiras mulheres a estudar, o que configurava um escândalo para a sociedade da época. Após se casar, a poeta decide voltar a estudar e ingressa a Faculdade de Direito de Lisboa – era uma das 14 mulheres entre 347 estudantes homens.

Não foram apenas os estudos que tornaram Florbela uma mulher à frente do seu tempo. Em 1921, ela se apaixonou por António Guimarães e decide, então, pedir o divórcio a Alberto, primeiro marido (ela se divorciaria, depois, de Antônio também). Embora o ato tenha sido completamente condenado pela sociedade, Florbela não se importou; não queria seguir os mesmos passos da mãe, pois estava mais interessada em buscar a própria felicidade. Morreu aos 36 anos, de uma overdose de barbitúricos, deixando uma obra da mais alta qualidade literária.

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