Empreendedores seniores também são os que mais empregam no país, segundo estudo feito pelo Sebrae; donos de negócios com mais de 54 anos contratam pelo menos seis profissionais
A geração de empreendedores seniores brasileiros – com idade de 54 a 65 anos – reforça a propulsão da atividade do empreendedorismo no país, de acordo com estudo feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Segundo dados da instituição, a partir da pesquisa GEM, o Brasil tem a 33ª proporção de Empreendedores Iniciais nesta faixa etária (aqueles que – nos últimos 12 meses – fizeram alguma ação para ter um negócio próprio ou estão à frente de empreendimento com menos de 42 meses de existência). Esses empreendedores são os que apresentam maior rendimento mensal (14% ganham cinco salários mínimos ou mais), além de ser a faixa etária que mais emprega, em termos relativos.
É o que também aponta o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): em 13 anos, o número de empreendedores entre 50 e 59 anos cresceu 57% (2001- 2014).
Para os especialistas, isso ocorre principalmente em razão das condições impostas pelo mercado de trabalho, que prioriza a juventude em detrimento da experiência. Trata-se da “hora da virada” – especialmente para quem já se encontra estabilizado financeiramente e pode, agora, investir em algo novo. São aqueles que tiveram de adiar um sonho por anos, mas que entendem que, finalmente, chegou o momento certo para concretizar um trabalho com propósito.
“Atendi uma profissional que fez toda sua carreira no mercado financeiro e chegou a ser diretora de banco. Porém, aos 50 anos ela me procurou para se preparar para atuar na área que sempre quis, o terceiro setor. Fez cursinho, prestou vestibular, estudou pedagogia e, hoje, atua em uma ONG, sem ganhar nada. Isso só foi possível porque ela se preparou financeiramente, por anos, para fazer aquilo que realmente lhe daria prazer”, conta Edson Moraes, executive coach do Espaço Meio.
Empreender nesta nova etapa da vida nem sempre significa mudar de área, mas de posição. Muitos executivos, por exemplo, partem para a área da consultoria, mas dentro do mesmo tema que dominam. É o que aponta pesquisa da Maturijobs, plataforma que reúne oportunidades voltadas a profissionais maduros, que aponta que 20% dos 1.047 entrevistados, a maioria na faixa dos 50 anos, são consultores (freelancers ou autônomos).
Maturidade e conhecimento

Empreender, no entanto, continua sendo um dos caminhos preferidos dos maduros. Na mesma pesquisa, 15% dos entrevistados se apresentaram como empreendedores e 9% estão se planejando para ser.
Moraes frisa que, independente da idade, um empreendedor deve possuir características e competências específicas. Por exemplo: atitude positiva, resiliência, habilidade de comunicação, conhecimento do negócio, capacidade de observação do mercado, dos concorrentes e das necessidades dos clientes. Disposição para planejar o futuro do negócio, pois a estagnação compromete a continuidade do empreendimento. Se não tiver algumas dessas competências, o melhor é desenvolvê-las ou delegá-las.
Para o Sebrae, essa preferência ocorre porque uma pessoa, aos 50 anos, costuma ter mais tranquilidade, conhecimento e segurança. Além disso, tem menos medo dos riscos e busca mais realização pessoal que rentabilidade. Nesta faixa etária predomina chefes de família. Segundo o estudo do Sebrae, o principal fator que motiva esses donos de pequenos negócios a abrir a própria empresa é conseguir uma fonte de renda adicional.
O caminho das pedras

O Sebrae lembra que, para empreender, são quesitos básicos elaborar um bom plano de negócios, estudar o mercado e buscar capacitação. A entidade recomenda:
Busque ajuda: consulte especialistas para conseguir ajuda no amadurecimento da sua ideia e de sua viabilidade, além de saber por onde deve começar.
Invista em capacitação: o conhecimento e as competências adquiridas durante a vida profissional devem estar afiados, mas não dispense mais conteúdo. Especialize-se na área de interesse do negócio. Faça cursos, participe de seminários, feiras e exposições.
Inove: observe o que há de novidade no mercado para oferecer produtos ou serviços diferenciados. Inovação implica não só investir em tecnologia, mas buscar soluções que tornem a sua empresa sustentável.
Seja dedicado: investir em um negócio exige determinação em qualquer idade. Há muitas pessoas com ideias, mas é preciso ter coragem e determinação para colocá-las em prática. Não ter medo de errar é uma característica de empreendedores de sucesso.
Mulheres empreendedoras buscam propósito

“Nos nossos eventos, percebemos o aumento no número de mulheres acima de 50 que buscam empreender. Hoje, quase metade dos micros e pequenos negócios são liderados por mulheres”, afirma Ana Lúcia Fontes, 52 anos, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que tem mais de 57 mil participantes em todo o país.
Ela explica que, diferentemente das mulheres que começam a empreender depois da maternidade para ter mais tempo com os filhos, as da faixa dos 50 anos buscam empreender como forma de se manter vivas, na ativa e fazer algo com o propósito que acreditam. Elas não têm mais filhos pequenos para cuidar, não querem mais o modelo tradicional de emprego ou ter de lidar com situações adversas dentro das empresas.
“A principal motivação não é dinheiro. Elas estão no auge da capacidade profissional. Além da experiência no mundo corporativo, têm experiência de vida e resiliência. Sabem lidar melhor com frustrações, possuem mais capacidade de perder, cair, levantar e superar dificuldades. Porque empreender tem muitos altos e baixos, e é preciso saber lidar com isso”, conclui Ana.